XXXII Domingo do Tempo Comum Ano C
“Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos.” Lc 20, 38
Somos confrontados numerosas vezes com a fragilidade da vida. Seja no processo de crescimento, que supõe passagens e transformações comparadas a pequenas mortes, seja no horizonte último da existência, viver é surpresa e confronto. A sede de eternidade habita o coração humano e, por isso, a morte que se apresenta como confronto com o fim e com o nada aparenta-se a uma traição. Nasce aí a esperança de que ela seja simplesmente passagem.
Sempre Deus se revelou como Senhor da vida, dador e protector da vida. E tornou o homem responsável pela sua e pela vida de outros, e por toda a criação. “Onde está o teu irmão?”, a pergunta que Deus fez a Caim, paira sobre a condição humana. Não adiantam desculpas nem surdezes; nenhum de nós é uma ilha, e o isolamento não realiza a humanidade. “O que fizeres ao mais pequenino dos teus irmãos, a Mim o fareis”, deixou-nos Jesus como projecto de vida.
A esperança da eternidade foi florescendo no judaísmo como expressão da fé no Deus da aliança, que tanto amava o seu povo e estendia esse amor aos povos de toda a terra. Os fariseus tinham uma concepção de vida depois da morte como prolongamento desta, e daí a necessidade de acumular méritos, ao passo que os saduceus somente acreditavam nesta vida, tanto mais que pertenciam às classes mais abastadas e dominantes, e esses sempre pensam e vivem como se fossem eternos! Eram materialistas assumidos: Deus “serve” para obter riqueza e poder.
À questão-armadilha que colocam, da heroica mulher que tinha sido esposa de sete irmãos, Jesus apresenta o Deus dos vivos. Aquele que dá a vida surpreendente e plena, maior do que os nossos sonhos, cheia de novidade esplendorosa. Se Deus simplesmente nos deixasse morrer, indiferente às insatisfações da nossa vida e dos males, não seria um Deus verdadeiro. Para ele todos estamos vivos. Eis a boa notícia: não fomos criados para a morte mas para a vida!
Importa pensar com radicalidade o grande mistério da existência cristã que é a ressurreição. Desmontando as ideias materialistas dos saduceus ou o mero prolongamento dos fariseus. Repensar os nossos relacionamentos possessivos e abrirmo-nos à surpresa da vida eterna como dom abundante de graça. Não vivemos à espera da morte mas desejosos do encontro com Deus que nos ama. E saboreio de novo o poema de Sebastião da Gama: “Que a Morte quando vier, não venha matar um morto”!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo propõe-nos uma reflexão sobre os horizontes últimos do homem e garante-nos a vida que não acaba.
- Na primeira leitura, temos o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela sua fé, durante a perseguição movida contra os judeus por Antíoco IV Epifanes. Aquilo que motivou os sete irmãos mártires, que lhes deu força para enfrentar a tortura e a morte foi, precisamente, a certeza de que Deus reserva a vida eterna àqueles que, neste mundo, percorrem, com fidelidade, os seus caminhos.
- No Evangelho, Jesus garante que a ressurreição é a realidade que nos espera. No entanto, não vale a pena estar a julgar e a imaginar essa realidade à luz das categorias que marcam a nossa existência finita e limitada neste mundo; a nossa existência de ressuscitados será uma existência plena, total, nova. A forma como isso acontecerá é um mistério; mas a ressurreição é uma certeza absoluta no horizonte do crente.
- Na segunda leitura temos um convite a manter o diálogo e a comunhão com Deus, enquanto esperamos que chegue a segunda vinda de Cristo e a vida nova que Deus nos reserva. Só com a oração será possível mantermo-nos fiéis ao Evangelho e ter a coragem de anunciar a todos os homens a Boa Nova da salvação.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho