XXVII Domingo do Tempo Comum - Ano C
“Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia.” Lc 17, 6
Quantas vezes gostaríamos que a fé fosse como uma espécie “canivete suíço”, instrumento para obter prodígios, como nos habitámos a ver na série MacGyver? Não será um pouco a tentação de medir a fé pela eficácia com que se realizam coisas extraordinárias e visíveis? Como se obrigássemos Deus a satisfazer os nossos desejos e caprichos!
Jesus apresenta a fé como uma semente pequenina, grão de mostarda, a mais pequena das sementes. Que é capaz de crescer admiravelmente, enraizar na vida e virar do avesso as escolhas e os caminhos. E reconhece-a presente no coração de pessoas inesperadas e improváveis, como o centurião ou a mulher cananeia. Que lhe pedem vida para outros, um servo e uma filha, que muito amam. Como também no cego que pede visão e na mulher que toca no seu manto, anunciando-lhes que a fé os salvou.
A imagem da amoreira desenraizada e plantada no mar aponta para as obras maravilhosas da fé. É claro que importa não interpretar mal as imagens utilizadas por Jesus. As raízes mais profundas e importantes, como as da indiferença, dos ódios e rancores, são as que precisamos arrancar do íntimo de cada um e da sociedade. Alargam-se abismos e crescem montanhas entre pessoas. Preconceito, desprezo, desconhecimento ou medo são alguns nomes destes abismos e montanhas. Não é obra maravilhosa desenraizar o mal que impede proximidade, abertura e comunhão? Não são admiráveis as pontes e os caminhos de perdão e diálogo que a fé, ajudada pela esperança e pela caridade, realizam? Quem não conhece e vive com muitas dessas raízes? E vive mal ou infeliz!
A fé cristã, não é uma simples crença em verdades, mas adesão radical à pessoa e ao projecto transformador do Mestre. Uma adesão que empenha a vida toda. Os seus frutos são extraordinários, o que não significa “dobrar e manipular” a ordem natural das coisas, ou manifestar-se na “espectacularidade” de sinais “impossíveis”. Deus ama o que é simples e verdadeiro, não precisa “armar espectáculo” para convencer ninguém. Basta-lhe o nascer do sol ou uma lágrima na face de uma criança!
A fé que ganha corpo na alegria de servir é verdadeiro “canivete suíço” para transformar o mundo. Não a fé “contabilista” de méritos que espera recompensas eternas. Não a fé “utilitarista” que procura mandar na vida e “orientar” Deus aos meus desejos. Não a fé “privada” que se abala com as derrotas do clube. Mas a fé, relação viva e desacomodada com o Senhor da Vida, que traz a alegria da generosidade e a paz de fazer o maior bem possível.
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
Na Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a salvação, a radicalidade do "caminho do Reino", etc.); mas sobressai a reflexão sobre a atitude correcta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras convidam-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a comprometer-nos com o "Reino" sem cálculos nem exigências, a acolher com gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
- Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado... Deus, em resposta, confirma a sua intenção de actuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de acordo com o seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o "tempo de Deus".
- O Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse projecto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem... A essa adesão chama-se "fé"; e dela depende a instauração do "Reino" no mundo. Os discípulos, comprometidos com a construção do "Reino" devem, no entanto, ter consciência de que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e gratuidade, como "servos que apenas fizeram o que deviam fazer".
- A segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com Jesus Cristo e com o "Reino". De forma especial, o autor exorta os animadores cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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