XXVI Domingo do Tempo Comum Ano B

30-09-2018 08:49

 

 

“Quem não é contra nós é por nós.”Mc 9, 40

 

 

Ainda bem que Deus não cobra à humanidade os “direitos de autor” de tudo o que é bom, belo e verdadeiro. Pelo contrário, fez-nos co-criadores de todos os milagres da vida, cuidadores daqueles que não dependem de nós e responsáveis por aqueles que só nós podemos fazer. Por isso, ninguém tem a exclusividade do bem, e em todos a sua graça pode actuar. Porquê então a tendência gananciosa e invejosa quando nos julgamos “donos dos milagres”, “proprietários da verdade”, “únicos criadores de bem e de beleza”?

É maravilhoso descobrirmos a beleza e a bondade onde e em quem menos se espera. Creio que Deus nos pede um coração de criança por isso mesmo. É preciso libertarmo-nos dos preconceitos que distorcem a realidade, da privatização do bem e do belo “só para nós e para os nossos”, do exclusivo da salvação. As fronteiras e as exclusões são obra dos homens e não de Deus. Com Jesus, o estrangeiro e o estranho, não é um perigo ou uma ameaça: é uma oportunidade. A derrubar muros, a partilhar dons, a abrir a mesa fraterna da comunhão. Seremos nós a colocar limites ao abraço de Deus? Conhecemos a medida dos seus braços e a surpresa da sua generosidade?

Imagino o sorriso de Jesus diante da queixa do discípulo João. Sem o repreender, alarga-lhe o coração e o pensamento. Não há limites para o amor de Deus se manifestar. E até o céu envolve o mundo num simples copo de água dado por amor. Se as mãos, os pés, e os olhos, que simbolizam o agir humano, podem fazer o bem, grave é não fazê-lo, e pior ainda, é usá-los para o mal. Jesus não quer que os cortemos ou arranquemos, pois bem falta nos fazem, mas os libertemos para a sua vocação essencial: fazer, caminhar e ver, ao modo de Jesus. Que eles criem, desenvolvam, reconheçam, partilhem os milagres que são de todos e para todos. Os ricos, denunciados pelo apóstolo Tiago, ao quererem o bem só para si, excluem-se da comunhão e da festa, e o resultado é a traça e a podridão. Esse é o maior escândalo: podiam fazer tanto bem, mas o egoísmo e a ganância torna-os artífices do mal. E não corremos o risco de ser um pouco “ricos” assim?

O que faltou a João e aos discípulos foi a alegria de ver o bem realizado por outros. Reclamaram uma posse, uma exclusividade, um direito que Deus não dá a ninguém, porque é de todos. E a alegria torna-se um critério da vida renovada de Jesus. A alegria dos milagres alheios, do crescimento de quem quer que seja, da saúde e da paz que outros alcançam, dos dons que se partilham generosamente, das obras boas e belas que são feitas. E para que a alegria seja plena são precisas as mãos, os pés e os olhos de todos!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.

  • A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
  • No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
  • A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.

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