XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano C
“Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo?” Lc 18, 7
Para que serve a oração? É uma pergunta colocada numerosas vezes. Muitas pessoas, de todas as religiões, dizem rezar todos os dias de mil e uma maneiras diferentes. É talvez o elemento religioso por excelência que une os crentes: falar com Deus, escutar o que Ele diz. E qual a importância da oração? Gonçalo M. Tavares, no seu livro “Aprender a rezar na era da técnica”, apresenta a oração e, substancialmente o silêncio que ela proporciona, em contraste com a “omnipotência” humana de um homem que vive dominado pela conquista de poder.
Se a oração é diálogo, abertura e encontro, é preciso despojarmo-nos de a instrumentalizar. Um ancião passava em silêncio longas horas na Igreja. Um dia, um sacerdote perguntou-lhe o que Lhe dizia Deus. “Deus não diz nada. Só escuta!” “Então, o que é que você lhe diz?”. Sorrindo, o ancião respondeu: “Eu também não digo nada. Só escuto!” Diálogo de surdos, dirão alguns; silêncio de namorados, retorquirão outros! Será certamente um “silêncio habitado”, aquele onde tudo pode acontecer.
É o silêncio de Deus que mais “fere” quem lhe pede graças tão importantes como a justiça, a saúde de alguém que se ama, a paz sempre adiada, a vida um pouco melhor. Mas a parábola deste domingo, sublinha a paciência e a persistência de quem pede. Jesus confirma o poder da oração, mesmo naquilo que depende do coração dos homens. O juiz iníquo não mudará a sua atitude profunda, mas vencido pela insistência da mulher, irá realizar o que lhe pede. É a forma de “Deus escrever direito por linhas tortas” como o povo aprendeu a descobrir? A desculpa de que “não temos tempo”, a imediatez que impomos a tudo, a facilidade de “passar a bola a Deus” demitindo-nos do nosso esforço, não nos impedirão de ouvir o que Deus nos diz no seu silêncio? Quantas guerras e injustiças não seriam vencidas pela força de homens e mulheres a enfrentar aqueles que as alimentam?
Os braços abertos de Moisés para Deus, no meio da batalha, davam força ao seu povo. E mostram o primeiro fruto da oração: receber a força de viver, a força de amar, de perdoar e de dialogar, de abrir-se ao outro e de partilhar. É a atitude da viúva que nos dá o segundo fruto da oração: a coragem de insistir, e a paciência de esperar. Deus não é indiferente nem surdo ao que lhe dizemos. E nós, com que fé rezamos, com que fé vivemos e nos convertemos? Se a resposta de Deus a todas as nossas súplicas é a vida de Cristo, oferecida plenamente na Páscoa, como passamos da exigência de “tem de ser como eu desejo” à humildade de “nas tuas mãos entrego o meu espírito?”
Jesus não rezava para nos dar exemplo. É a condição natural de quem é filho e sabe que é amado pelo Pai. Estar e conversar com quem se ama não é uma das maiores felicidades? E tudo ganha luz nesse encontro. O silêncio fica grávido de vida. Os impossíveis transfiguram-se, as forças renovam-se, a comunhão abraça-nos. Não é fuga mas compromisso com a vida. Começando a amá-la como é e trabalhando para que seja plena. Como não encontrar tempo para este milagre?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A Palavra que a liturgia de hoje nos apresenta convida-nos a manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente: só dessa forma será possível ao crente aceitar os projectos de Deus, compreender os seus silêncios, respeitar os seus ritmos, acreditar no seu amor.
- O Evangelho sugere que Deus não está ausente nem fica insensível diante do sofrimento do seu Povo... Os crentes devem descobrir que Deus os ama e que tem um projecto de salvação para todos os homens; e essa descoberta só se pode fazer através da oração, de um diálogo contínuo e perseverante com Deus.
- A primeira leitura dá a entender que Deus intervém no mundo e salva o seu Povo servindo-Se, muitas vezes, da acção do homem; mas, para que o homem possa ganhar as duras batalhas da existência, ele tem que contar com a ajuda e a força de Deus... Ora, essa ajuda e essa força brotam da oração, do diálogo com Deus.
- A segunda leitura, sem se referir directamente ao tema da relação do crente com Deus, apresenta uma outra fonte privilegiada de encontro entre Deus e o homem: a Escritura Sagrada... Sendo a Palavra com que Deus indica aos homens o caminho da vida plena, ela deve assumir um lugar preponderante na experiência cristã.
Grupo Dinamizador:
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