XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano B
“Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo.” Mc 10, 43
O contraste não podia ser maior. Jesus e os discípulos, em movimento para Jerusalém, meta e sofrimento e morte, já três vezes anunciada por Jesus, e eles, surdos às suas palavras, sonhando com toda a glória e poder que esperavam do triunfo do Messias. Jesus a caminhar, e Tiago e João a pedirem para se sentarem, à sua direita e à sua esquerda! Mal imaginavam que, quem teria a honra de estar ao lado de Jesus na hora da sua plena entrega seriam dois malfeitores! Não é fácil entender o que é o poder, a glória, a autoridade para Deus. Julgamos que o importante é mandar, oprimir, subjugar e controlar. O poder e a autoridade cegam…
Jesus não rejeita o pedido dos dois irmãos. Aceita o desejo e aproveita para os “pescar”, pela boca, como se faz ao peixe, e fala-lhes de cálice e de baptismo. Agarra-os para a sua Páscoa e toda a renovação de vida que dela virá. Une-os à sua entrega de amor e compromete-os com a novidade do Evangelho. Quando S. Marcos escreve o seu evangelho, Tiago já tinha dado a vida por Jesus. Já tinha bebido o cálice e recebido o baptismo de que Jesus falara, e a resposta que então dera tinha-se concretizado. Ele e João, bem como os outros, já tinham entendido, que entre os discípulos de Jesus, a autoridade e o poder tinham de ser à maneira de Jesus: servindo e dando a vida. Não “sentados”, mas em “caminho”!
O sinal mais evidente de identificação com Jesus é a missão. Na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, o Papa Francisco, dirigindo-se a todos, e particularmente aos jovens (pela realização do Sínodo dos Bispos a eles dedicado), começa por recordar que a vida de cada um de nós “é uma missão”. “Ser atraídos e ser enviados são os dois movimentos que o nosso coração, sobretudo quando é jovem em idade, sente como forças interiores do amor que prometem futuro e impelem a nossa existência para a frente.” Se a fé é uma espécie de “tesouro” de família que se guarda num cofre, e o evangelho um livro bonito para enfeitar uma estante lá de casa, não estamos em caminho com Jesus Cristo. Como diz o Papa: “esta transmissão da fé, coração da missão da Igreja, verifica-se através do «contágio» do amor, onde a alegria e o entusiasmo expressam o sentido reencontrado e a plenitude da vida.”
Missão não é só ir para longe, levar Jesus a quem nunca ouviu falar d'Ele (embora sejam milhões!), quantas vezes, impondo e dominando em vez de servir e reconhecendo que o amor de Deus já chegou primeiro. Missão é transbordar com verdade o que vivemos com Jesus, na imperfeição e na confiança, no perdão e na festa, na libertação e na esperança.
Com que alegria vivi o anúncio da escolha de D. Daniel Batalha Henriques para Bispo Auxiliar de Lisboa! A alegria do caminho partilhado desde o primeiro dia de seminário e do testemunho de serviço e amor à Igreja que sempre impulsionou para a missão. Desejo-lhe a constante descoberta de ser pastor como Jesus, e da glória que é servir!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum lembra-nos, mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da lógica do mundo. Convida-nos a prescindir dos nossos projectos pessoais de poder e de grandeza e a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na entrega de quem serve humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida eterna e verdadeira.
- A primeira leitura apresenta-nos a figura de um “Servo de Deus”, insignificante e desprezado pelos homens, mas através do qual se revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos que uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos homens.
- No Evangelho, Jesus convida os discípulos a não se deixarem manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Chamados a seguir o Filho do Homem “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”, os discípulos devem dar testemunho de uma nova ordem e propor, com o seu exemplo, um mundo livre do poder que escraviza.
- Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus fala-nos de um Deus que ama o homem com um amor sem limites e que, por isso, está disposto a assumir a fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a partilhar a sua condição. Ele não Se esconde atrás do seu poder e da sua omnipotência, mas aceita descer ao encontro homens para lhes oferecer o seu amor.
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