XVI Domingo do Tempo Comum - Ano B
“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco.” Mc 6, 31
Descansamos pouco e mal. Parece sempre um desperdício de tempo, os ritmos exteriores e interiores estimulam e exigem uma contínua actividade, os acidentes e incapacidades físicas e mentais acontecem. Do simples descanso a umas férias retemperadoras, quem não desejaria mais tempo, simplesmente para dormir? Os dados são alarmantes: “os problemas do sono constituem uma epidemia global que ameaça a saúde e a qualidade de vida de 45% da população mundial” (relatório da Associação Mundial de Medicina do Sono – 2016). Apetecia até criar um provérbio: “quem não sabe descansar, não sabe trabalhar”!
Toda a vida precisa de uma alternância de actividades: uma mais visível, iluminada, agitada; e outra, invisível, no silêncio e na interioridade, de repouso. O que parece descanso e inacção é actividade do cérebro e de tantas estruturas do corpo, essenciais para a vigília e para o trabalho em que parece que “voltamos a mandar na vida”. Se não respeitamos esta alternância, e não aceitamos a “pequena morte” do activismo, pomos em causa tudo o resto. Conta-se que até Winston Churchill, perante um problema agudo da 2ª Guerra Mundial a que era necessário dar resposta, terá respondido: “Para meu bem e do país, vou primeiro fazer uma sesta”!
Maravilho-me com as palavras de Jesus aos discípulos, depois da sua primeira missão. “Com Ele”, “para um lugar isolado”, “descansar um pouco” é um convite sublime. Mesmo a urgência do anúncio do reino, tem em conta as necessidades humanas. Paciência, consciência dos limites, tempo para deixar crescer, saborear e contemplar o que se disse e fez, partilhar e agradecer, pôr tudo nas mãos de Deus, são tão ou mais essenciais do que o trabalho em si. Não somos máquinas nem funcionários, nem de Deus nem de ninguém. E como conseguir descansar um pouco de máquinas sofisticadas e “indispensáveis”, que já não conseguimos desligar? Quem usa quem?
A travessia do lago na barca foi curto período de descanso. Mas apontou algo importante. O olhar de Jesus cheio de compaixão pelas multidões só nos é possível quando estamos disponíveis de coração inteiro. É a disponibilidade que é pedida aos pais para os filhos, aos professores para os alunos, aos governantes para os governados, aos pastores para “as ovelhas”. Sem ela, os outros tornam-se estranhos, números para estatísticas, percentagens, multidões anónimas. A eficiência, a produtividade, o sucesso, e as metas são importantes, mas não se podem esquecer da compaixão. É preciso descobrir o dom de Deus que está em nós e nos outros, a comum necessidade de sermos escutados e amados. E que tem isto a ver com o descanso? Talvez responda o cântico do P. António Cartageno com melodia do Baixo Alentejo: “Quando Te encontro descanso, / Tu reconfortas minha alma. / Cristo Senhor és o guia, / o Bom Pastor que me conduz, / Minha vida e minha luz”.
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta do amor e da solicitude de Deus pelas “ovelhas sem pastor”. Esse amor e essa solicitude traduzem-se, naturalmente, na oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens.
- Na primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Jahwéh condena os pastores indignos que usam o “rebanho” para satisfazer os seus próprios projectos pessoais; e, paralelamente, Deus anuncia que vai, Ele próprio, tomar conta do seu “rebanho”, assegurando-lhe a fecundidade e a vida em abundância, a paz, a tranquilidade e a salvação.
- O Evangelho recorda-nos que a proposta salvadora e libertadora de Deus para os homens, apresentada em Jesus, é agora continuada pelos discípulos. Os discípulos de Jesus são – como Jesus o foi – as testemunhas do amor, da bondade e da solicitude de Deus por esses homens e mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas sem pastor”. A missão dos discípulos tem, no entanto, de ter sempre Jesus como referência… Com frequência, os discípulos enviados ao mundo em missão devem vir ao encontro de Jesus, dialogar com Ele, escutar as suas propostas, elaborar com Ele os projectos de missão, confrontar o anúncio que apresentam com a Palavra de Jesus.
- Na segunda leitura, Paulo fala aos cristãos da cidade de Éfeso da solicitude de Deus pelo seu Povo. Essa solicitude manifestou-se na entrega de Cristo, que deu a todos os homens, sem excepção, a possibilidade de integrarem a família de Deus. Reunidos na família de Deus, os discípulos de Jesus são agora irmãos, unidos pelo amor. Tudo o que é barreira, divisão, inimizade, ficou definitivamente superado.
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