XV Domingo do Tempo Comum - Ano C

14-07-2019 09:15

 

 

 

“Passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão.” Lc 10, 33

 

 

Com pouco mais palavras (contando artigos e partículas gramaticais) chegou até nós a parábola que Jesus contou para responder à pergunta: “quem é o meu próximo”! E ficamos “sem palavras” diante dum relato onde cabe a vida toda, e podemos “entrar na pele” de todos os personagens. A história, que não seria notícia de capa de nenhum jornal, nem “post” das redes sociais (pois o samaritano não tiraria nenhuma “selfie”!), ressoa no íntimo de quem a lê ou escuta.

Quem somos nós neste relato? Um homem no caminho que desce de Jerusalém a Jericó: 1100 metros de desnível. Figura de todos os homens e mulheres, que sobem e descem tantos caminhos, anónimo e tão igual a todos nós, sem saber o imprevisto que o espera. Bandidos, profissionais do mal, especialistas no roubo violento e na fuga, indiferentes à sorte dos frágeis e desprotegidos, de consciência adormecida para as consequências dos seus actos, cobardes que atacam pela força da maioria, tão diferentes do que cada um de nós pode ser?! Um sacerdote, homem de Deus, íntimo do sagrado, purificado pelo culto, de olhar cego pelos rituais da pureza, passa adiante: a dureza de coração é maior do que a compaixão, e connosco tal não aconteceria! Um levita, um funcionário zeloso do templo, habituado às coisas de Deus e esquecido do amor dos outros, vê e segue adiante: a pressa ou a falsa humildade de achar que nada se pode fazer distinguem-no de nós! Um samaritano, raça desprezada pelos judeus, que tinha programa a cumprir, salva a honra de todos nós, e é o herói improvável por uma abundante compaixão. E ainda um estalajadeiro, que também podia ser um de nós, capazes de cuidar a pedido (e ainda mais com pagamento antecipado)!

Do saber ao fazer vai um pequeno grande passo. Em 11 gestos, 11 verbos, o samaritano revela a compaixão em acto. Não é quem muito sabe que faz avançar a história; nem quem muito diz. Mas quem muito ama. O segredo não é saber quem é nosso próximo, mas de quem é que nos aproximamos. A nossa religiosidade vai ao encontro da vida, das pessoas na sua realidade, ou passa de largo, enredada em discussões vazias e guerrinhas de poder? A criatividade do amor abre futuros, provoca outros a fazer melhor, não se limita a constatar o mal ou a desistir antes de tentar.

O Samaritano é Jesus; e não nos pede Ele que sejamos nós também? Na atenção a um e a todos, aqui e agora, nos pequenos e nos grandes problemas da humanidade. Como continuam actuais estas palavras da Gaudium et Spes: “a profunda e rápida transformação da vida exige com grande urgência que ninguém, por despreocupação ou por inércia, se conforme com uma ética meramente individualista. Os deveres da justiça e da caridade cumprem-se cada vez mais contribuindo para o bem comum de acordo com a capacidade própria e a necessidade do próximo, promovendo e ajudando as instituições, públicas ou privadas, que se dedicam a melhorar as condições de vida dos homens” (n.30). Ficamos “sem palavras”, não é verdade? Passemos então aos actos!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo procura definir o caminho para encontrar a vida eterna. É no amor a Deus e aos outros – dizem os textos que nos são propostos – que encontramos a vida em plenitude.

  • O Evangelho sugere que essa vida plena não está no cumprimento de determinados ritos, mas no amor (a Deus e aos irmãos). Como exemplo, apresenta-se a figura de um samaritano – um herege, um infiel, segundo os padrões judaicos, mas que é capaz de deixar tudo para estender a mão a um irmão caído na berma da estrada. “Vai e faz o mesmo” – diz Jesus a cada um dos que o querem seguir no caminho da vida plena.
  • A primeira leitura reflecte, sobretudo, sobre a questão do amor a Deus. Convida os crentes a fazer de Deus o centro da sua vida e a amá-lo de todo o coração. Como? Escutando a sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos seus mandamentos.

 

  • Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que propõe Cristo como a referência fundamental, como o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada crente. O texto foge, um tanto, à temática geral das outras duas leituras; no entanto, a catequese sobre a centralidade de Cristo leva-nos a pensar na importância do que Ele nos diz no Evangelho de hoje. Se Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da nossa caminhada.
 
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho