XIV Domingo do tempo Comum - Ano B
“Estava admirado com a falta de fé daquela gente.” Mc 6, 6
Um garoto perguntou um dia ao avô: “Qual é o tamanho de Deus?” Indicando ao neto um avião que passava alto no céu, perguntou-lhe o avô: “Qual o tamanho daquele avião que passa lá alto?” “É bem pequenino!”, respondeu o petiz. Então o avô levou o neto ao aeroporto e, junto de um avião parado, perguntou: “E este avião, de que tamanho é?” “Ui”, respondeu o neto, “esse é bem grande”. E o avô concluiu: “Pois Deus é assim; quanto mais longe estamos d’Ele, mais Ele é pequenino; quanto mais perto, maior Ele é para nós”!
Lembrei-me desta história, deixada por um amigo numa gravação telefónica, a propósito do evangelho deste domingo. A missão dos profetas é mostrar a verdadeira grandeza de Deus e denunciar a nossa aparente proximidade d’Ele. A esperança de um messias/chefe/rei manifestava-se em categorias, nas quais Jesus não encaixava. Desde logo a proximidade com os que O tinham visto crescer, que suscitava incredulidade pela sua humanidade. Sentiam a estranheza que “alguém”, vindo de Deus, fosse tão humano! Como o “estudo” realizado nos Estados Unidos por psicólogos da Universidade da Carolina do Norte, que originou uma representação do “rosto de Deus” com aparência de “um homem comum”! É certo que os seus conterrâneos elogiavam a sabedoria das suas palavras, mas não passaram daí. Não conseguiram dar o salto da fé, aquele que encontra a grandeza de Deus que não esmaga nem oprime, antes salva e liberta!
Quem nunca sonhou um encontro com Jesus Cristo? O que ficaria mais impresso no nosso íntimo? Aspectos diferentes, certamente, mas seria (e é!) um encontro que toca a vida em todas as dimensões. Não apenas a intelectual, esta em que estamos mais habituados a “colocar” a fé. Poderíamos falar de vários âmbitos que compõem a vida humana: o biopsíquico, o do conhecimento, o da economia, o da ética, o da vida lúdica, o da vida religiosa, o da vida socio-política. A fé não é uma realidade apenas ligada ao “conhecimento”, à “teo-logia” (um saber de Deus). A relação com Jesus está ligada a todas as nossas relações vitais e provoca mudança e crescimento em todas elas. É à identificação da nossa vida toda com a de Jesus que podemos chamar “seguimento”. Porque Ele nos seduziu um pouco, muito, ou muitíssimo, a nossa vida muda!
Escrevo estas palavras no dia de Santa Isabel de Portugal, e recordo a sua firmeza e generosidade na dupla missão de rainha e mulher, de poder e serviço. E socorro-me do seu milagre da transformação do pão que levava aos pobres em rosas para contar uma história do poeta Rainer Maria Rilke. Vivia ele em Roma, e com um amigo passava todos os dias por uma pedinte que lhes estendia a mão. Quando o seu colega tinha alguma moeda a mais deixava-a na mão da mulher. Rilke não o imitava. Mas um dia, ao passarem por ela, tirou uma rosa da sua sacola e colocou-lha na mão. A face escondida e suja iluminou-se e duas lágrimas afloraram aos olhos. Nos três dias seguintes, não a viram no lugar habitual. Regressou no quarto dia. Perguntou o amigo de Rilke: “De que terá vivido esta mulher estes três dias?” Repondeu o poeta: “Viveu da rosa!”
O tamanho de Deus revela-se no acolhimento de vida que Lhe fazemos, e como O deixamos fazer crescer o amor em nós. Amor de pão e de rosas!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo revela que Deus chama, continuamente, pessoas para serem testemunhas no mundo do seu projecto de salvação. Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas; a força de Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que Deus escolhe e envia.
- A primeira leitura apresenta-nos um extracto do relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é aí apresentada como uma iniciativa de Jahwéh, que chama um “filho de homem” (isto é, um homem “normal”, com os seus limites e fragilidades) para ser, no meio do seu Povo, a voz de Deus.
- Na segunda leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto (recorrendo ao seu exemplo pessoal) que Deus actua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. Na acção do apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.
- O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes apresenta.
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