VIII Domingo do Tempo Comum - Ano A
"Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro."
Mt 6, 24
Não foi certamente com o bezerro de ouro que os hebreus fizeram no deserto que
começou a idolatria do dinheiro. Mas este é um exemplo simples de como é possível
transferir a fé e a confiança, que só é libertadora na relação com um outro e com Deus,
para um objecto que materializa o poder e reduz a escravo quem lhe presta culto. Da
história do homem que trabalhava desalmadamente, destruindo a sua vida e a da família,
para encher o sétimo pote de moedas de ouro (que nunca enchia por mais moedas que lá
colocasse), ao conto da procura da camisa do homem feliz que curaria o rei da sua
melancolia (e o único homem feliz encontrado não tinha camisa!), muitos são os relatos
que apontam a escravidão que o dinheiro gera. Tal como o excesso e a degradação
retratados no filme “O lobo de Wall Street”, de Martin Scorsese, que retrata uma história
real de enriquecimento e da degradação por ele gerada a partir de um dos “motores”
do nosso mundo: a Bolsa de Nova Iorque.
O verdadeiro problema não é o dinheiro mas a sua capacidade de corroer os valores e
convicções mais profundas do homem. “Os homens esquecem mais rapidamente a morte do
pai do que a perda do património”, dizia Maquiavel no seu “Príncipe”. Quantas zangas
familiares e discórdias chegam a finais violentos que são causados pelas partilhas entre
herdeiros, tantas vezes pela insignificância de poucas coisas deixadas pelos pais.
Na verdade os bens são um pretexto para vinganças e conflitos mal resolvidos, mas é fácil
ficar-se prisioneiro da “pobre” consolação da riqueza. Gandhi dizia: “algemas de ouro
são muito piores do que algemas de ferro.” Na lógica do Evangelho, o importante não é ter
mas aquilo que se faz com o que se tem. Os bens têm este nome porque se destinam a
fazer o bem, quando não o fazem, tornam-se males! Até o poeta Bocage dizia do dinheiro:
“Faço a paz, sustento a guerra / Agrado a doutos e a rudes / Gero vícios e virtudes /
Torço as leis, domino a terra.”
Uma constante nas palavras do Papa Francisco tem sido a denúncia “da ditadura de uma
economia sem rosto”, “uma economia da exclusão e da iniquidade”, e que “essa economia
mata”. A 20 de Fevereiro, numa mensagem à Academia Pontifícia da Vida escrevia:
“Nas nossas sociedades existe um domínio tirânico de uma lógica económica que exclui
e por vezes mata, da qual hoje muitíssimos são vítimas, a começar pelos nossos idosos.”.
Os quatro “nãos” da “Alegria do Evangelho interpelam as nossas atitudes: “Não a uma
economia de exclusão (…) Não à nova idolatria do dinheiro (…) Não a um dinheiro que
governa em vez de servir (…) Não à desigualdade social que gera violência.” Como
podemos fazer a economia que dê vida a todos?
P. Vítor Gonçalves
in, Voz da Verdade
A liturgia deste 8º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre as nossas
prioridades. Recomenda que dirijamos o nosso olhar para o que é verdadeiramente
importante e que libertemos o nosso coração da tirania dos bens materiais. De resto, o
cristão não vive obcecado com os bens mais primários, pois tem absoluta confiança nesse
Deus que cuida dos seus filhos com a solicitude de um pai e o amor gratuito e incondicional
de uma mãe.
- O Evangelho convida-nos a buscar o essencial (o “Reino”) por entre a enorme bateria
de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso interesse. Garante-nos, igualmente,
que escolher o essencial não é negligenciar o resto: o nosso Deus é um pai cheio de
solicitude pelos seus filhos, que provê com amor às suas necessidades.
- A primeira leitura sublinha a solicitude e o amor de Deus, desta vez recorrendo à
imagem da maternidade: a mãe ama o filho, com um amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito,
incondicional; e o amor de Deus mantém as características do amor da mãe pelo filho,
mas em grau infinito. Por isso, temos a certeza de que Ele nunca abandonará os homens
e manterá para sempre a aliança que fez com o seu Povo.
- Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a fixarem o seu olhar no
essencial (a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus fez aos homens)
e não no acessório (os veículos da mensagem.
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org