VII Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem.” Mt 5, 44
Uma das perguntas que toda a criança começa a ouvir desde cedo é esta: “O que queres ser quando fores grande?” E as respostas suscitam admiração, aprovação ou condescendência dos adultos que gostam demasiado de fazer aterrar os sonhos infantis. É interessante que se pergunta sobre “ser”, confundindo-o com “fazer”. É claro que também somos aquilo que fazemos. Gostei especialmente daquele pequenito que respondeu simplesmente: “Quando for grande quero ser melhor!”
A tarefa de “completar” alguns mandamentos da Lei, que Jesus empreende no discurso da montanha, culmina com uma afirmação que parece inatingível: “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. Há aqui um horizonte que parece utópico, fora do normal, desprovido de bom senso, mas é o horizonte cristão, pois é aquele que convida sempre a caminhar, a inventar respostas novas e melhores para os problemas de sempre: os conflitos, as violências, os ódios, os “nossos e os outros”. Ninguém tinha ousado antes de Jesus falar com tal radicalidade acerca do ódio e da vingança. E se a lei de talião tinha aplicado a justiça de não haver vingança que ultrapassasse a falta, e o amor ao próximo incluía exclusivamente os judeus, Jesus rasga o horizonte. Não basta pensar que o próximo é o que pensa como eu ou é dos “meus”; todos os filhos de Deus são meu próximo!
Jesus radicaliza a renúncia à não violência (sem deixar de nos dar o exemplo de quando foi bofeteado na paixão confrontar aquele que lhe batera: “porque me bates?”). E também à ganância da posse (causa de tantas violências!), das coisas (túnica e manto) e do tempo (acompanhar uma / duas milhas). Sempre a surpreender, a “trocar as voltas” a quem espera respostas violentas, a sacudir e a protestar com gestos inesperados, a utilizar o amor inventivo como alavanca para mover as montanhas que endurecem os corações e cegam o pensamento.
Não há nada mais grandioso, mais específico e mais difícil de viver do que o amor aos inimigos. O amor e a oração pelos que nos odeiam têm como referência o Pai que está nos Céus, que dá o sol e a chuva a todos. Dá tudo a todos, pois não tem inimigos. E nós a gostarmos de colocar este “rótulo” aos que não acreditam n’Ele! E se a referência é o amor do Pai, vemo-nos perante a “impossibilidade” de alguma vez sermos como Ele, não é? Mas como pode Jesus propor-nos algo impossível? Lembramos como em S. Lucas, num texto paralelo, Jesus diz-nos para sermos “misericordiosos”, compassivos como é o Pai. E esse modo de falar da perfeição, não como algo “pleno”, mas em movimento, é mais próximo da nossa humanidade, entendível como próprio dos seguidores de Jesus. Tem o sabor daquela frase da criança que “queria ser melhor”, e a ousadia do amor criativo e inventivo que não se acomodas nem se instala, e dos sonhos faz realidade!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do sétimo Domingo do Tempo Comum convida-nos à santidade, à perfeição. Sugere que o "caminho cristão" é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical (feito de gestos concretos de amor e de partilha) com a dinâmica do "Reino". Somos, assim, convidados a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que nos espera no final da viagem.
- A primeira leitura que nos é proposta apresenta um apelo veemente à santidade: viver na comunhão com o Deus santo, exige o ser santo. Na perspectiva do autor do nosso texto, a santidade passa também pelo amor ao próximo.
- No Evangelho, Jesus continua a propor aos discípulos, de forma muito concreta, a sua Lei da santidade (no contexto do "sermão da montanha"). Hoje, Ele pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse "caminho" só gera egoísmo, sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza nem discrimina ninguém (nem mesmo os inimigos). É nesse caminho de santidade que se constrói o "Reino".
- Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto - e os cristãos de todos os tempos e lugares - a serem o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, eles devem renunciar definitivamente à "sabedoria do mundo" e devem optar pela "sabedoria de Deus" (que é dom da vida, amor gratuito e total).
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho