VII Domingo do Tempo Comum - Ano A

23-02-2014 08:18

 

"Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem,

para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus.”

Mt 5, 44

 

Até descobrir que “OK” era a palavra mais usada do mundo pensava que “amor” teria

 o primeiro lugar. Ok, certamente isso acontece porque é dita do mesmo modo em todas 

as línguas! Porque, com traduções incluídas, continuo a pensar que “amor” tem a primazia. 

Pela sua presença ou ausência, quase tudo tem a ver com o amor. O amor é nomeado em

 inúmeros títulos de revistas (especializadas em esmiuçar as relações dos famosos) e até 

em dois filmes actualmente em cartaz. Num deles, “Her – Uma história de amor”, Spike Jonze,

 aborda a possibilidade (?) do “amor” na relação que Joaquim Phoenix estabelece com 

um programa informático, qual parábola da crescente dependência da tecnologia e da

 fragilidade dos laços humanos.  

Do amor a Deus e aos amigos sempre se falou no Antigo Testamento, e muitos

 sentiram-se reconhecidos quando Jesus disse que ambos eram “o maior mandamento”. 

Mas deve ter sido difícil ouvir aquele “subir de fasquia” que foi o apelo de Jesus a “amar 

os inimigos”. Os salmos estavam cheios de apelos a Deus para nos libertar dos inimigos, comemorando a vitória sobre eles, quando não pedindo algum castigo como consequência

 das suas maldades. Como é possível amar os inimigos? E sorrio ao pensar naquela

 história de uma velhinha com 97 anos que dizia com absoluta convicção: “Amar os meus 

inimigos? É muito fácil! Já morreram todos!”. Misturam-se muitas vezes os sentimentos

e não é fácil sentir afecto ou gostar de quem nos quis, ou quer, mal. Gosto de citar

 Martin Luther King (como cito de memória exprimo mais a ideia do que o concreto 

das palavras): “Eu não consigo gostar de quem vem a minha casa e me maltrataa mim, 

e à minha família, porque sou negro. Não consigo gostar dessas pessoas. Mas, porque 

sou cristão, eu quero amá-las!”. É o mais difícil; amar sem sentimentos de afecto à 

partida, amar desejando o bem e não o mal, amar cortando cedo as ervas daninhas 

do ódio e da vingança. Volto a Luther King: “O ódio paralisa a vida; o amor liberta-a. 

O ódio confunde a vida; o amor harmoniza-a. O ódio escurece a vida; o amor ilumina-a. 

O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo.” É tão difícil que 

ninguém pode julgar quando não se consegue, do mesmo modo que não podemos 

desistir de tentar!

Jesus apresenta a oração como um primeiro passo do amor: pedir ao Pai por quem 

nos magoou é um bom “herbicida” contra as ervas daninhas da mágoa e do ressentimento. 

Abre-nos. Descentra-nos. E isso é um movimento do amor. O amor que não desiste. 

Como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade: “Este o nosso destino: amor 

sem conta, / distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, / doação ilimitada a uma 

completa ingratidão, / e na concha vazia do amor à procura medrosa, / paciente, 

de mais e mais amor. / Amar a nossa falta mesma de amor, / e na secura nossa, 

amar a água implícita, / e o beijo tácito, e a sede infinita.”

P. Vítor Gonçalves

in, Voz da Verdade

 

 

 

A liturgia do sétimo Domingo do Tempo Comum convida-nos à 

santidade, à perfeição. Sugere que o “caminho cristão” é um caminho

nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, 

um compromisso sério e radical (feito de gestos concretos de amor 

e de partilha) com a dinâmica do “Reino”. Somos, assim, convidados

a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que 

nos espera no final da viagem.

  • A primeira leitura que nos é proposta apresenta um apelo 

veemente à santidade: viver na comunhão com o Deus santo, exige 

o ser santo. Na perspectiva do autor do nosso texto, a santidade 

passa também pelo amor ao próximo.

  • No Evangelho, Jesus continua a propor aos discípulos, de 

forma muito concreta, a sua Lei da santidade (no contexto do “sermão 

da montanha”). Hoje, Ele pede aos seus que aceitem inverter a lógica 

da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, 

sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza

nem discrimina ninguém (nem mesmo os inimigos). É nesse caminho 

de santidade que se constrói o “Reino”.

  • Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto – e 

os cristãos de todos os tempos e lugares – a serem o lugar onde Deus

reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, eles devem 

renunciar definitivamente à “sabedoria do mundo” e devem optar pela

“sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total).

 

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