VI Domingo do Tempo Pascal - Ano A
“Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco.” Jo 14, 16
De uma anterior visita de outro Papa a Portugal recordo o lema que então animou os tempos seguintes: “O Papa foi; o Espírito ficou!” E talvez possamos dizer o mesmo desta peregrinação de paz e esperança que o Papa Francisco fez nas 23 horas em que veio a Fátima. Mesmo que a sua vinda se tenha misturado com a alegria benfiquista e com a 1ª vitória de uma canção portuguesa no Festival da Eurovisão, este é o tempo para recordar e aprofundar as palavras e gestos de Francisco. É certo que muitos deles já foram, em direto, comentados e analisados exaustivamente (às vezes para prejuízo de quem gostaria de os ter seguido com mais simplicidade, em especial na televisão!). Acontece com tudo: a ânsia de fazer notícia também pode cair no ridículo de lugares comuns e banalidades!
O que o Papa Francisco disse de Maria e de Fátima pode não ser novidade nem original, mas interpela a fé e a missão da Igreja. Começou na belíssima revisitação da “Salvé Rainha”, que inspirou a sua saudação na Capelinha e, numa linguagem poética, comprometeu todos: “Percorreremos, assim, todas as rotas, seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direcção a todas as periferias, aí revelando a justiça e a paz de Deus.” Continuou depois ao perguntar que Maria procuramos: “Uma ‘Mestra de vida espiritual’, a primeira que seguiu Cristo pelo caminho ‘estreito’ da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora ‘inatingível’ e, consequentemente, inimitável? A ‘Bendita por ter acreditado’ (cf. Lc 1, 42.45) sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma ‘Santinha’ a quem se recorre para obter favores a baixo preço?” Fátima, e o encontro com Maria, mais do que uma meta ou um ponto de chegada, não serão também uma renovação, um ponto de irradiação?
O Espírito Santo e a esperança caminham juntos. “Somos esperança para os outros”, e não podemos ser “uma esperança abortada”, insistiu Francisco. Quando se despediu dos discípulos na Ceia, Jesus prometeu a sua presença nova no Espírito da Verdade. Aquele que “defende” (“paráclito”), que habita connosco e está em nós. É com Ele que estamos em Jesus e estamos no Pai, na dinâmica do amor.
Ao falar da paz, já na viagem de regresso, o Papa Francisco disse que ela era “artesanal”. Como “a amizade entre as pessoas, o conhecimento mútuo, a estima são artesanais: constroem-se todos os dias.” E não é também assim o amor que procuramos viver todos os dias? Como cantou o Salvador Sobral, aquele “amar pelos dois” tão cheio de esperança: “…Meu bem, ouve as minhas preces / Peço que regresses, que me voltes a querer / Eu sei, que não se ama sozinho / Talvez devagarinho, possas voltar a aprender…”!
- O Evangelho apresenta-nos parte do “testamento” de Jesus, na ceia de despedida, em Quinta-feira Santa. Aos discípulos, inquietos e assustados, Jesus promete o “Paráclito”: Ele conduzirá a comunidade cristã em direcção à verdade; e levá-la-á a uma comunhão cada vez mais íntima com Jesus e com o Pai. Dessa forma, a comunidade será a “morada de Deus” no mundo e dará testemunho da salvação que Deus quer oferecer aos homens.
- A primeira leitura mostra exactamente a comunidade cristã a dar testemunho da Boa Nova de Jesus e a ser uma presença libertadora e salvadora na vida dos homens. Avisa, no entanto, que o Espírito só se manifestará e só actuará quando a comunidade aceitar viver a sua fé integrada numa família universal de irmãos, reunidos à volta do Pai e de Jesus.
- A segunda leitura exorta os crentes – confrontados com a hostilidade do mundo – a terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a mostrarem o seu amor a todos os homens, mesmo aos perseguidores. Cristo, que fez da sua vida um dom de amor a todos, deve ser o modelo que os cristãos têm sempre diante dos olhos.