VI Domingo do tempo comum - Ano A

16-02-2014 09:14

 

"Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus.”

                                                                 Mt 5, 20

 

Este ano entrou o Sermão da Montanhas no nosso ritmo dominical supondo que 

conhecemos a porta das Bem-aventuranças (como celebrámos a Apresentação do Senhor, 

saltámos as leituras desse domingo). E há o perigo de esquecê-las nestes domingos 

em que Jesus vai mostrando a diferença entre “o que foi dito aos antigos” e o “porém eu 

digo-vos”. A lei de Israel era conhecida e bastante clara, os seus limites estavam bem 

demarcados. Mas quando Jesus fala de pobres que herdarão o Reino dos céus, e

 humildes que possuirão a terra, e ter fome e sede de justiça, percebemos que os

 nossos limites serão sempre estreitos diante do coração de Deus. De que adiantam

 limites que são becos sem saída e preceitos que só servem para condenar?

Philomena Lee é uma mulher irlandesa de oitenta anos que, passados cinquenta anos

 de ter dado à luz um filho (fruto de uma relação adolescente que originou o desprezo 

da família e de uma instituição religiosa que a acolheu e acabou por “vender” o filho a 

uma família norte americana) tem um desejo mais forte de o encontrar (depois de 

inúmeras buscas junto das religiosas que tudo fizeram para impedir esse encontro). 

“Philomena” é o belíssimo filme de Stephen Frears que sintetiza essa procura e

 encontro. A 5 de Fevereiro passado esta mulher esteve na audiência do Papa 

Francisco e foi apresentada ao Papa: “sempre tive uma profunda fé na igreja e na sua 

vontade de reparar os erros cometidos no passado”, disse na ocasião. Com beleza e 

coragem o filme é duro para uma realidade eclesial que tem tão pouco a ver com o 

evangelho de Jesus, porque a estreiteza das mentalidades e a maldade não 

desaparecem com nenhuma água benta. Quando a desumanidade se veste de 

religiosidade cometem-se crimes impensáveis e a justiça implica sempre uma 

purificação que só a verdade pode fazer.

É à verdade de cada um e dos seus actos que as palavras de Jesus se dirigem. A verdade 

de um culto que pode esconder indiferença ou “pequenas e grandes guerrinhas” com 

os irmãos; a verdade de relações de “amor” onde a violência, o uso e abuso dos mais 

fracos, a irresponsabilidade pelo nascimento e morte de vidas (100.000 abortos no

 ano de 2012 no nosso país quer dizer o quê?) acontecem como se fosse tudo normal; 

a verdade de nos preocuparmos com os escândalos e dramas explorados até à exaustão

 pelos mass-media mas, quando as audiências se cansam, ninguém reparar que pouco 

foi mudado. Sim, a verdade de um Deus que ama a humanidade e se preocupa connosco 

implica que toda a justiça comece pela verdade. E que a verdade possa ser ocasião de 

salvação e não de destruição! 

P. Vítor Gonçalves

in, Voz da Verdade

 

 

A liturgia de hoje garante-nos que Deus tem um projecto de salvação

para que o homem possa chegar à vida plena e propõe-nos uma reflexão sobre a 

atitude que devemos assumir diante desse projecto.

  • Na segunda leitura,

Paulo apresenta o projecto salvador de Deus (aquilo que ele chama “sabedoria de 

Deus” ou “o mistério”). É um projecto que Deus preparou desde sempre “para aqueles 

que o amam”, que esteve oculto aos olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou 

com a sua pessoa, as suas palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na 

cruz (pois aí, no dom total da vida, revelou-se aos homens a medida do amor de Deus e

 mostrou-se ao homem o caminho que leva à realização plena).

  • A primeira leitura 

recorda, no entanto, que o homem é livre de escolher entre a proposta de Deus (que 

conduz à vida e à felicidade) e a auto-suficiência do próprio homem (que conduz, quase

 sempre, à morte e à desgraça). Para ajudar o homem que escolhe a vida, Deus propõe 

“mandamentos”: são os “sinais” com que Deus delimita o caminho que conduz à salvação.

  • O Evangelho 

completa a reflexão, propondo a atitude de base com que o homem deve abordar esse 

caminho balizado pelos “mandamentos”: não se trata apenas de cumprir regras externas,

 no respeito estrito pela letra da lei; mas trata-se de assumir uma verdadeira atitude interior 

de adesão a Deus e às suas propostas, que tenha, depois, correspondência em todos os 

passos da vida.

 

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