Solenidade de todos os Santos - Ano A
"Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.” Mt 5, 7
O mês de novembro começa com dois dias especialmente dedicados a levantarmos os olhos e o pensamento para mais além da vida deste mundo: o dia de Todos os Santos e o dos fiéis defuntos. Ambos nos falam da esperança cristã e caracterizam-se pela universalidade. Não temos aprendido essa realidade com esta pandemia que nos recorda como todos somos contagiáveis, hospitalizáveis e mortais? Será que aprenderemos a responsabilidade pela vida de todos, pela cura de todos, pela dignidade de todos? Ou pensávamos que a frase cheia de esperança “Todos vamos ficar bem”, colocada em tantas janelas, não implicava verdadeiras mudanças de estilos de vida?
Celebramos num dia todos os homens e mulheres, de todos os tempos e lugares, conhecidos e desconhecidos que viveram o evangelho de Jesus, “olharam o mundo com amor e os / homens como irmãos. […] que Te seguiram e contigo conviveram, de modo admirável: com os que tinham fome partilharam o seu pão / olharam compadecidos as dores / do mundo e sofreram perseguição por causa da Justiça.” (Maria de Lourdes Belchior). É a multidão incontável dos “santos ao pé da porta”, na maravilhosa diversidade de dons colocados ao serviço do Reino, com mais ou menos conhecimento do Pai que enviou O Filho e nos deu o Espírito Santo, mas que “o seu presente era já quase só amor”.
E não será este caminho só para alguns? Jesus indica-o a todos, e o Concílio Vaticano II disse que essa é a verdadeira “vocação universal”. Nos caminhos de cada um, com as qualidades e defeitos que temos, como desejamos a felicidade, assim somos chamados à santidade. Não concordamos que todo o ser humano deseja ser feliz? É verdade que podemos imaginar muitos modos de sê-lo, mas, à medida que caminhamos, percebemos que o que nos parecia fácil, que não exigiu esforço, que só alimentou o egoísmo e o orgulho foram “falsas felicidades”. Assim, as “Bem-aventuranças” aparecem em “contra-corrente” com o marketing habitual das felicidades. Ser pobre no coração, reagir com humilde mansidão, saber chorar com os outros, buscar a justiça com fome e com sede, olhar e agir com misericórdia, manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor, remear a paz ao nosso redor, e abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade (Cf Papa Francisco, Gaudete et exsultate 67-94)
Sim, na verdade não será para nós, se só contarmos com as nossas forças. Se quisermos fazer da vida uma corrida, um triunfo, uma glória pessoal. Se estivermos mais cheios das nossas capacidades do que da alegria de crescer com outros, de os amar como são (pois é assim que Deus ama), de receber a sua ajuda e, de querer ser com e como Jesus. Mas acreditem que é mesmo para todos!
Padre Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
Nota introdutória:
Temos partilhado convosco os comentários às leituras de cada domingo. Para a Solenidade de Todos os Santos, não sendo possível preparar os comentários na forma habitual, publicamos alguns elementos de apoio, inspirados e adaptados da revista “Signes d’aujourd´hui”: breves introduções e comentários às leituras; uma primeira reflexão sobre o Evangelho no presente; uma segunda reflexão intitulada “ter um coração de pobre”; uma terceira reflexão sobre “a santidade de muitos” (João Paulo II); algumas sugestões práticas.
Primeira Leitura: Como descrever a felicidade dos mártires e dos santos na sua condição celeste, invisível? Para isso, o profeta recorre a uma visão.
Salmo Responsorial: O salmo de hoje proclama as condições de entrada no Templo de Deus. Ele anuncia também a bem-aventurança dos corações puros. Nós somos este povo imenso que marcha ao encontro do Deus santo.
Segunda Leitura: Desde o nosso batismo, somos chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marca da eternidade.
Evangelho: Que futuro reserva Deus aos seus amigos, no seu Reino celeste? Ele próprio é fonte de alegria e de felicidade para eles.
Breve comentário
Segunda mensagem de esperança, que responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já o futuro ao qual nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.
Breve comentário
As Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Batismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem são, efetivamente, formas de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e de lucro… tudo isso aparece como não rentável, votado ao fracasso, à morte.
Mas que pensa Cristo? Ele, pelo contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus, introdu-los no Reino e na Terra Prometida.
A Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem-amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org
Pe. Vitor Gonçalves
in Rádio Renascença