Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano C
"Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito." Lc 23, 35
As pessoas que vieram mais cedo e escolheram os lugares junto aos corredores são as primeiras a agitar-se. Aos poucos, a Praça de S. Pedro parece levantar-se e orientar os olhares para o veículo branco onde o Papa Francisco, sentado e com algumas crianças ao seu lado, saúda, sorri e abençoa enquanto percorre as alas do recinto. Há uma alegria da proximidade com este homem que não se consegue explicar: ele é Francisco, é Pedro, é um amigo de Jesus e nosso também! Tão diferente é a sua aclamação daquela que Jesus teve na cruz!
Na cruz acontece o último encontro terrestre de Jesus com a humanidade que veio salvar. E na boca dos chefes religiosos, dos soldados e de um ladrão são repetidas as tentações do início da sua vida pública: “Salva-te a ti mesmo; faz com que acreditemos saindo dessa cruz; e salva-nos também a nós.” Repete-se a ideia de poder que Jesus sempre recusou. Pois são inúmeras e variadas as ideias sobre o poder. Mas geralmente triunfam as que representam força, domínio, imposição, violência de uns sobre outros. Como andamos tão enganados e aprendemos tão pouco com a história! As mudanças profundas no mundo e nas pessoas não acontecem pela força e destruição, mas pelo dom de quem ama e salva. É com “mais vida” que nos tornamos humanos e mais divinos. Vida dada e não tirada!
Um Deus tão “humano”, a pensar mais nos outros que em si, que se dá em vez de exigir e castigar, compadecido e não indiferente, incomoda os poderes que idolatramos na religião, na política, na economia. Disse-nos o Papa Francisco na audiência desta quarta-feira: “Não podemos deixar de prestar atenção aos sentimentos, somos humanos e o sentimento é uma parte da nossa humanidade, e sem entender os sentimentos seremos desumanos, sem viver os sentimentos, seremos indiferentes ao sofrimento dos outros e incapazes de aceitar o nosso.” É o perigo da “distância asséptica”, insistiu Francisco, de não nos envolvermos na vida, de deixar de ter uma “inquietação saudável”.
Como noutros momentos da vida, com tantos que O procuravam para d’Ele obter coisas, Jesus está só no calvário. Os que O amam e acompanham perto ou longe estão amedrontados e incapazes de reagir. Mas há um que quer estar com Ele. Um ladrão que se compadece e “pede”, coisa estranha! E recebe o melhor: “Hoje estarás comigo no paraíso!” Na nossa desolação, convida-nos o Papa a “procurar encontrar o coração de Cristo, encontrar o Senhor, e a resposta chega sempre”. Com que rei queremos estar?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A Palavra de Deus, neste último domingo do ano litúrgico, convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus. Deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se exerce no amor, no serviço, no perdão, no dom da vida.
- A primeira leitura apresenta-nos o momento em que David se tornou rei de todo o Israel. Com ele, iniciou-se um tempo de felicidade, de abundância, de paz, que ficou na memória de todo o Povo de Deus. Nos séculos seguintes, o Povo sonhava com o regresso a essa era de felicidade e com a restauração do reino de David; e os profetas prometeram a chegada de um descendente de David que iria realizar esse sonho.
- O Evangelho apresenta-nos a realização dessa promessa: Jesus é o Messias/Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o velho sonho do Povo de Deus e apresentar aos homens o "Reino"; no entanto, o "Reino" que Jesus propôs não é um Reino construído sobre a força, a violência, a imposição, mas sobre o amor, o perdão, o dom da vida.
- A segunda leitura apresenta um hino que celebra a realeza e a soberania de Cristo sobre toda a criação; além disso, põe em relevo o seu papel fundamental como fonte de vida para o homem.