Solenidade de Cristo, Rei do Universo - Ano B
"É como dizes: sou Rei. Paraisso nasci e vim ao mundo,
a fim de dar testemunho da verdade." Jo 18,37
Não é por acaso que o Evangelho deste Domingo pertence ao relato da Paixão segundo S. João que lemos em Sexta-Feira Santa. Se existe mistério por excelência em que se manifesta o poder da realeza de Cristo, é o da Cruz. Cristo “Rei” não se impõe nem pelo seu poder, nem pela sua fama, nem pela sua riqueza. As tentações do deserto são vencidas definitivamente. A sua glória reside na fraqueza deste sinal paradoxal, passagem obrigatória para vencer o pecado, reduzir ao nada a morte e dar-nos a vida.
O contraste não podia ser maior: Pilatos, representante do maior império da terra, interroga Jesus, o humilde pregador da Galileia, preso e manietado diante de si, sobre a sua realeza. Como poderia ser ele o messias esperado dos judeus, que viria, qual novo David, vencer em batalhas sangrentas os opressores de Israel? Surpreendentemente, Jesus, que em outros momentos de exaltação popular tinha recusado aquele título ambíguo, agora assume-o: “Sim. Sou Rei. Mas o meu reino não é deste mundo!” Que valor tem um reino que não é deste mundo? Aqui, o que manda é o poder e a riqueza, e podem ter outros títulos aqueles que dominam os povos, mas o que conta mesmo é quem tem mais poder!
Jesus une a sua missão real à de “ser testemunha da verdade”! E a grande verdade a que nenhum poder humano pode escapar é à da morte, do despojamento de tudo na voracidade do tempo. Que pena os ricos não poderem comprar a morte, dizia o poeta popular António Aleixo! Testemunhar a verdade é introduzir o amor e a justiça de Deus na história e no coração dos homens. É essa verdade que transforma a vida das pessoas num projecto feliz e pleno, e que nenhuma morte pode reduzir ao nada. Jesus é Rei pelo poder de amar e servir completamente! É assim que Ele quer que os seus discípulos vivam!
Parece loucura fazer do amor o grande poder. Na original adaptação do “Ensaio da Loucura” de Erasmo que Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra levam à cena no Teatro A Barraca, em Lisboa, perpassa uma constante crítica a toda a espécie de poder que manipula e escraviza o ser humano. Diz Maria do Céu Guerra a Erasmo, interpretando a Loucura: “Loucura é dar o que se tem sem ver a quem, é descobrir o traseiro do rei que não vai nu sem medo de perder a língua ou a vida. Loucura é criar beleza e utopia no meio do caos e do medo. Loucura é amar demais e morrer na cruz, como Jesus…”
Semelhante loucura propõe o Papa Francisco aos jovens neste Dia Mundial da Juventude ao pedir-lhes repetidamente: “Levanta-te e testemunha…”. Escolho um dos apelos: “Levanta-te e testemunha que as existências fracassadas podem ser reconstruídas, as pessoas já mortas no espírito podem ressuscitar, as pessoas escravizadas podem voltar a ser livres, os corações oprimidos pela tristeza podem reencontrar a esperança.” É o poder da loucura deste Amor!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Palavra de Deus que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus.
- A primeira leitura anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos. Através de um "filho de homem" que vai aparecer "sobre as nuvens", Deus vai devolver à história a sua dimensão de "humanidade", possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse "filho de homem" vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.
- Na segunda leitura, o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o "príncipe dos reis da terra", Aquele que há-de vir "por entre as nuvens" cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. É, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de "filho de homem" de que falava a primeira leitura.
- O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, Jesus a assumir a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela, contudo, que a realeza reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão "real" de Jesus é dar "testemunho da verdade"; e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida.
Pe. Joaquim Garrido - Pe. Manuel Barbosa - Pe. Ornelas Carvalho
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