Solenidade de Cristo, Rei do Universo - Ano B
"Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz.” Jo 18, 37
O contraste não podia ser maior: Pilatos, representante do maior império da terra, interroga Jesus, o humilde pregador da Galileia, preso e manietado diante de si, sobre a sua realeza. Como poderia ser ele o messias esperado dos judeus, que viria, qual novo David, vencer em batalhas sangrentas os opressores de Israel? Como poderia ser ele esse “Leão de Judá”, capaz de devolver a Israel a glória que todos os povos desejam ter, e ainda mais aquele que se intitulava “povo do Senhor”? Surpreendentemente, Jesus, que em outros momentos de exaltação popular tinha recusado aquele título ambíguo, agora assume-o: “Sim. Sou rei. Mas o meu reino não é deste mundo!” Que valor tem um reino que não é deste mundo? Aqui, o que manda é o poder e a riqueza, e podem ter outros títulos aqueles que dominam os povos, mas o que conta mesmo é quem tem mais poder!
Jesus une a sua missão real à de “ser testemunha da verdade”! E a grande verdade a que nenhum poder humano pode escapar é à da morte, do despojamento de tudo na voracidade do tempo. Que pena os ricos não poderem comprar a morte, dizia o poeta popular António Aleixo! Testemunhar a verdade é introduzir o amor e a justiça de Deus na história e no coração dos homens. É essa verdade que transforma a vida das pessoas num projecto feliz e pleno, e que nenhuma morte pode reduzir ao nada. Essa verdade pela qual se dá a vida e a recuperamos eternamente, essa verdade que implica honestidade e coragem quando muitas mentiras continuam a querer dominar, essa verdade que salva e dá a cada dia uma luz nova. E Jesus é rei pelo poder de amar e servir completamente! É assim que Ele quer que os seus discípulos vivam!
Alegro-me com a coragem do Papa Francisco em enfrentar os escândalos financeiros de altos dignatários da Igreja. E vejo nisso a mesma procura da verdade que Jesus nos pede, e a todos nos convida a mudar de critérios. É tão fácil ser “reizinho” nos mesquinhos reinos que criamos! Mas são muitos os sinais de quem não desiste de viver como Jesus. Há 50 anos, quatro dezenas de bispos e cardeais presentes no Concílio Vaticano II firmaram um pacto de opção preferencial pelos pobres. Ficou conhecido por “Pacto das Catacumbas” pois a reunião aconteceu nas Catacumbas de Domitilia, lembrando o cristianismo perseguido dos primeiros séculos. O documento que foi entregue ao Papa Paulo VI foi agora traduzido e publicado entre nós pelas Paulinas. Do que o P. Tolentino fez eco no Expresso da semana passada saliento algumas passagens: “Que se propunham os bispos? A revolução da simplicidade. Deixar os palácios episcopais e viver em casas iguais às das suas populações. Renunciar aos sinais exteriores de riqueza e à riqueza em si. (…) Confiar a gestão financeira e material das dioceses a comissões de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, (…); evitar aquilo que pode parecer um privilégio ou uma preferência pelos ricos e poderosos; (…) lutar para que os responsáveis pela governação decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento; (…) tudo fazer para que o ministério episcopal constitua um verdadeiro serviço.”
Sim. O reino de Jesus não é deste mundo mas é para este mundo. E cresce com a verdade de vivermos cada vez mais como Jesus. Todos, com a coragem e a humildade de um caminho conjunto!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Palavra de Deus que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus.
- A primeira leitura anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos. Através de um “filho de homem” que vai aparecer “sobre as nuvens”, Deus vai devolver à história a sua dimensão de “humanidade”, possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse “filho de homem” vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.
- Na segunda leitura, o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o “príncipe dos reis da terra”, Aquele que há-de vir “por entre as nuvens” cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. É, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de “filho de homem” de que falava a primeira leitura.
- O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, Jesus a assumir a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela, contudo, que a realeza reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão “real” de Jesus é dar “testemunho da verdade”; e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida.
portugal@dehonianos.org :: www.dehonianos.org