Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano C
“Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu.” Lc 24,51
Foi sem dúvida um privilégio percorrer os caminhos da Grécia em busca dos passos de S. Paulo, na sua segunda viagem missionária. Foi ele o primeiro a anunciar o Evangelho de Jesus em território europeu. Em Filipos, Tessalónica, Bereia, Atenas e Corinto, seguimos a “reportagem” que S. Lucas nos deu nos Actos. Contactar com a ancestral história e cultura grega, a riqueza do pensamento dos filósofos, a génese da democracia e a actualidade deste país fez contraponto com os passos paulinos. Quem nos dera ter a mesma paixão de S. Paulo em descer à vida e realidade das pessoas, para levar Jesus Cristo. Ser simplesmente turista é muito pouco!
Jesus subir ao céu é mais um modo de falar da sua ressurreição. E da nossa também. O evangelista Lucas conta como Jesus explicou aos apóstolos que a descida da sua paixão e morte está unida à ressurreição. É preciso descer à máxima desumanidade para a levantar e salvar, como erguemos quem está caído, pondo as mãos por baixo e levantando o corpo inerte. Não se resolve um problema sem descer às suas raízes, como não se transforma uma realidade sem a conhecermos por dentro. E isso não se faz sem sofrimento e entrega. Quando não se desce, nem se entra no mistério das coisas e das pessoas, vivemos como “turistas”, a tirar fotos que nunca mais veremos ou “selfies” para mostrar a todos. E sem descer não se pode subir. Isto acontece na fé e na vida, como também no amor e na felicidade que tanto idealizamos.
Ser testemunha de Jesus implica um mergulho na vida humana como o d’Ele, abraçando todas as realidades humanas e elevando-nos uns com os outros. E nada nos pode ser indiferente ou desprezível, nem temos as soluções mágicas de todos os problemas. Pois isso é trabalho da “força do alto” (que belíssimo nome do Espírito Santo). É porque vem do alto que se derrama em tudo e em todos, e não apenas em alguns “iluminados”!
Pela força da gravidade que nos mantém de pés assentes nesta terra, tudo o que quer crescer em altura precisa crescer em profundidade. Assim as árvores, os prédios e as pessoas. Não foi para o céu do espaço que Jesus subiu. Mas para o céu da vida em abundância onde nos encontramos, desde já, com Ele. Por isso a grandeza que podemos desejar para nós e para quem amamos é a do crescimento interior. Das pessoas únicas e maravilhosas que somos, capazes de amar incondicionalmente, de criar beleza, de multiplicar laços e elevar os outros, de contemplar e agradecer, de descer ao íntimo de si e do mundo para tudo oferecer a Deus. O que é grave é quando o acumular das coisas, a “vida pela rama”, ou o egoísmo que nos fecha em nós, nos impedem de descer e de subir!
Pe. Vitor Gonçalves
Voz da Verdade
A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere que, no final de um caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, em comunhão com Deus. Sugere, também, que Jesus nos deixou o testemunho e que somos agora nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
- O Evangelho apresenta-nos as palavras de despedida de Jesus que definem a missão dos discípulos no mundo. Faz, também, referência à alegria dos discípulos: essa alegria resulta do reconhecimento da presença no mundo do projecto salvador de Deus e resulta do facto de a ascensão de Jesus ter acrescentado à vida dos crentes um novo sentido.
- Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus – a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo caminho de Jesus. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante, mas têm de ir para o meio dos homens continuar o projecto de Jesus.
- A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa esperança de mãos dadas com os irmãos – membros do mesmo “corpo” – e em comunhão com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”. Cristo reside nesse “corpo”.