Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano B

25-11-2018 08:59

 

"O meu reino não é deste mundo.” Jo 18, 36 

 

 

Contam algumas pessoas, que na Igreja de S. Domingos da Baixa de Lisboa, existia, antes do incêndio de 1959, uma imagem de Cristo-Rei, num trono, de coroa e ceptro na mão, de cabelos longos e ondulados, qual Luís XIV no seu maior esplendor! Certamente influenciada pelo nascimento desta festa em 1925, representava o apelo à militância católica e à difusão dos valores cristãos numa sociedade adversa. Mas que significa a realeza de Jesus nas suas palavras e na sua vida? Encontra paralelo com os reinos deste mundo, feitos de ambição e poder, sustentados pela força e pelas armas?

No encontro com Pilatos culmina o despojamento de Jesus de toda a espécie de violência. É com Amor que vencerá a violência humana: será a perdoar e não a castigar, a salvar e não a condenar, a recriar e não a destruir. Recusará mesmo a violência de impor a sua divindade quando lhe disserem que acreditarão n’Ele se descer da cruz (Mc 15, 32). O seu Reino, que não é deste mundo porque não se afirma pelo poder que oprime, é o reino da vida nova transformada pelo amor, da verdade de todos sermos filhos de Deus, do serviço à humanidade nos pobres, nos rejeitados, nos infelizes. A fragilidade vence a força sem combater, esvaziando-a do seu ilusório poder e confrontando-a com a única verdade que salva: o amor incondicional de Deus.

A realeza de Jesus é a de “servir e dar a vida”, como tinha ensinado aos discípulos a propósito de uma discussão sobre os lugares no seu reino (Mc 10, 42-45). E é essa realeza que nos é confiada pelo Baptismo; a única em que a Igreja pode viver a identificação com Cristo. É assim que o reino de Deus começa neste mundo, na responsabilidade pelo serviço a todos, na atenção aos mais esquecidos e desprezados, em pequenos gestos de verdadeiro amor, surpreendentes milagres que a inteligência e o coração realizam. Pobre “realeza” dos que vivem centrados em si, acumulando e dominando, e morrem sem “realizar” tantas obras de bondade e beleza!

Dar testemunho da verdade nunca foi fácil, e neste tempo de “fake news” e ocultamento de verdades é uma tarefa árdua. Jesus Cristo, nas palavras finais do diálogo com Pilatos, diz que veio a este mundo para dar testemunho da verdade. Não para a ensinar, nem impor. Nem ficar em discussões vazias e palavras bonitas. Mas ser sua testemunha, e viver o projecto de mundo novo, onde nascem relações novas entre as pessoas e os povos. Realizar a verdade que o serviço aos outros vence o mal, que o dom gratuito liberta do egoísmo, que o diálogo e o encontro fazem pontes. Que verdade realizamos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Palavra de Deus que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus.

  • A primeira leitura anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos. Através de um "filho de homem" que vai aparecer "sobre as nuvens", Deus vai devolver à história a sua dimensão de "humanidade", possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse "filho de homem" vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.
  • Na segunda leitura, o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o "príncipe dos reis da terra", Aquele que há-de vir "por entre as nuvens" cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. É, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de "filho de homem" de que falava a primeira leitura.
  • O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, Jesus a assumir a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela, contudo, que a realeza reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão "real" de Jesus é dar "testemunho da verdade"; e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida.
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