IX Domingo do tempo comum - Ano B
"O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.”Mc 2, 27
O “sabath” nasceu como coisa bela. Um tempo em forma de templo, para o louvor e a contemplação, para a surpresa de maravilhar-se com a obra feita, para dar graças e libertar-se da automatização da vida. Um tempo com sabor de eternidade, saboreando o regaço de Deus que “também descansou” ao sétimo dia. Mas, com a falta de jeito com que se estraga o que é bom, fez-se do “sábado” obrigação estéril, legalizaram-se os passos em 1892 metros autorizados, excomungaram-se quem fizesse o mais pequeno trabalho ou até preparasse uma refeição. E desenhou-se o rosto de um deus autoritário (à imagem dos senhores do mundo) pronto a castigar todas as infracções, invejoso da vida e da alegria humanas, quase “arrependido” de ter dado a liberdade aos homens. Fez-se do sábado (e de tantas outras coisas) uma escravidão… em “nome de Deus”!
Os conflitos de Jesus com os fariseus não apontam apenas uma reforma de leis e costumes. Jesus apresenta uma nova concepção de Deus e da sua relação com os homens. Não há amor a Deus que não inclua um maior bem aos homens e, por isso, não são “dois amores” mas um e o mesmo. Preceitos, mandamentos, valores, actos religiosos ou não, são feitos para o homem e não o homem feito para eles! Quem caminha é mais importante que o caminho, quem faz é mais importante do que a obra, quem falha é mais importante do que o resultado. Todos temos nome e ninguém é incógnito para Deus. Há uma primazia do ser humano sobre tudo o que ele pode utilizar, até (e principalmente) o que se chama religioso. Principalmente, porque é grande a tentação de dominar, escravizar e culpabilizar “em nome de Deus”.
O homem da mão atrofiada que Jesus chamou para o meio da sinagoga não tinha nome. Como não tinham nome os que ficaram em silêncio, perante a possibilidade de Jesus o curar, infringindo a lei sabática. Aquele homem é a humanidade impedida de ser plena, de criar beleza ou pelo menos de ser livre para a escolher. E os silenciosos não seremos nós, aprisionados por regras e medos, incapazes de nos maravilharmos com o milagre de recriar? O Pai revela-se próximo e pessoal em Jesus. Tem interesse por aquele homem que irá curar e por cada um dos que assistem. A ordem de Jesus, “Estende a mão” recorda a criação do homem, que Miguel Ângelo pintou no tecto da Capela Sistina. E com Jesus, todos os que estendem a alma até à surpresa sem limites do amor de Deus, vão descobrindo para o que foi feito o homem!
A sentença surpreendente de Jesus é convite a não cair em fundamentalismos. Invoca a inteligência humana para discernir o verdadeiro olhar de Jesus. É preciso coragem para procurar o essencial sem ficar preso no acessório. E que tal aproveitar todos os “sábados” (e todo o tempo) para “fazer o bem e salvar vidas”?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 9.º Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre a celebração do Dia do Senhor, sábado para os judeus, domingo para os cristãos, fazendo memória da ação criadora e redentora de Deus para com o seu Povo.
- A primeira leitura recorda-nos o preceito do terceiro mandamento, de guardar o sábado para o santificar, sugerindo que seja um dia que exprime a unidade do Povo que celebra a ação libertadora de Deus, sem qualquer tipo de desigualdades.
- O Evangelho, retomando a mesma temática, mostra que, quando se faz uma interpretação demasiado rigorista dos preceitos da Lei, ela deixa de cumprir a sua missão de estar ao serviço do homem de cada tempo. Jesus convida-nos, por isso, a posicionar-nos ao serviço dos necessitados, tendo em conta que o Dia do Senhor foi feito para o homem, não para fazer do homem um escravo. É um convite a vivermos não do preceito, mas da Lei que assumimos no nosso coração.
- A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de ardor apostólico de São Paulo, para quem ser evangelizador equivale a ser prolongamento da vida de Cristo que deve ser visível naqueles que a anunciam. Apesar das fragilidades humanas, a mensagem evangélica não fica comprometida, porque é um tesouro precioso, sinal de que a obra evangelizadora é obra do poder de Deus.
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