IV Domingo do Tempo Comum - Ano C

03-02-2019 08:31

 

 

 

 

 

“Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.” Lc 4, 30

 

 

 

Podemos reconhecer estes atributos nas pessoas decididas e promotoras de desenvolvimento. “Saber”, “querer” e “fazer” não são ideais que nos motivam como humanos? Contudo, aplicados aos conterrâneos de Jesus, na sua apresentação como profeta na terra que o viu crescer, foram sinal de atrofia e dureza de coração e pensamento. Ao longo da história e em tantos lugares, com outros homens e mulheres, revestidos de espírito profético, conscientes ou não do projecto de Deus, agindo para libertar e salvar a humanidade, a mesma arrogância tem-se manifestado.

É grande a tentação de julgar que se sabe tudo. Que se conhece bem quem cresceu ao nosso lado. A passagem da admiração diante das palavras da Jesus à convicção de que o conheciam muito bem é surpreendente. Fecharam a mente e o coração à novidade com os ferrolhos da presunção. Como Jesus desafiava os habituais esquemas religiosos e pedia um suplemento de coração, era mais fácil contestar a sua origem. Assim aconteceria durante a sua vida pública: os mais letrados, os especialistas das Escrituras, os que esperavam um Messias justiceiro e vingador, os satisfeitos da religião, os que tinham negócio montado com o Templo e com os governantes, os que “fiscalizavam” a religião dos outros, “sabiam” que Jesus não podia vir da parte de Deus! É o saber que não admite interrogação, abertura, maravilhamento perante a absoluta novidade do amor gratuito de Deus!

Queriam sinais extraordinários para acreditar. Milagres para alimentar uma “fé” que não nos transforma nem compromete, mas põe Deus ao nosso serviço. Não vai ser essa a última tentação feita a Jesus? “Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito” (Lc 23, 35), dirá o povo no calvário. Queriam, e não queremos nós, sinais extraordinários que dissipem as dúvidas, ponham ordem em tudo o que nos dá trabalho, resolvam as imperfeições, nos façam pedir “bis, bis”? O que não queriam, nem queremos (?): acolher a palavra e a pessoa de Jesus, a ser Deus-connosco, a fazer-nos profetas que vivem e anunciam um mundo novo de irmãos, que não pactuam com a injustiça e a falta de amor, e aprendem a dar a vida.

Por isso, fizeram o que é costume: expulsaram-no da cidade, e tentaram precipitá-l’O de um monte. É a Páscoa anunciada, e repetida nos profetas de todos os tempos. Aos filhos ilustres de uma terra costuma oferecer-se as chaves da cidade, por entre homenagens várias. A Jesus, apontaram a porta de saída, e já agora, do mundo, “porque estamos bem, obrigado, e o deus que nos trazes vem pôr em causa esta vida a que nos habituámos”!

É importante “saber” mas o que sabemos e como sabemos? É importante “querer” mas o que que queremos e quem queremos? É importante “fazer” mas o que fazemos e porque fazemos? Jesus que passou no meio deles e seguiu o seu caminho, como continua a interpelar-nos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

O tema da liturgia deste domingo convida a reflectir sobre o “caminho do profeta”: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao “profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou contigo para te salvar”.

  • A primeira leitura apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
  • O Evangelho apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espectacular e não entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou judeus.
  • A segunda leitura parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão fará sentido.
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