Imaculada Conceição - II Domingo do Advento - Ano A
"Não temas Maria, porque encontraste graça diante de Deus.”
Lc 1, 30
De encontros e desencontros de faz a vida de cada um de nós. A nossa fé é dom e
resposta para o encontro que Deus propõe à humanidade. Deus que arrisca a recusa e
a indiferença, mas não perde a esperança de sairmos de entre as árvores onde, por
medo ou por orgulho, procuramos viver a vida sem Ele. No encontro de Nazaré, do anjo
com aquela jovem, creio que estamos todos nós e também o universo. Tudo suspenso
de um “sim” mais forte que todos os “nãos”. É um encontro único, e, contudo, todos os
encontros com Deus têm este sabor de alegria e risco, de confiança e futuro.
Saboreio convosco uma tradução livre de um poema de José Luís Martin Descalzo no
livro “Apócrifo de Maria”: “E falou. / E disse palavras /
que iam caindo como gotas de chumbo derretido. / Palavras que não saberia repetir /
mas que me empurravam para uma grande loucura. / Eu teria de crescer e crescer. /
De cima esticariam a minha alma / porque aquele que ia vir / era tão diminuto e tão grande /
que só caberia em mim e em todo o universo. / E tudo aquilo -- que bem o compreendi então! -- /
se faria com riso e sangue. / A alma não cresce como se estica a massa do pão na padaria /
cresce desprendendo-se / esticando o coração com os sete cavalos do mistério. /
Cresces sem perceber / e começas a não ser o que tu eras. / Sabes que Alguém
será teu filho, / mas nunca saberás quem é esse alguém / e começas a suspeitar /
que este primeiro parto feliz / é só o ensaio de outro mais sangrento. /
E, como dizer-lhe “não”? / Como negar ao sol o seu direito a ser luz e iluminar? /
Como regatear com Ele, / pôr condições, / pedir-lhe garantias? / O amor é assim:
eleger sem eleição. / E disse-lhe: “faça-se”. / E recordo que o anjo sorriu / como se
acabasse de tirar-lhe um grande peso de cima / como se agora pudesse já atrever-se
a regressar ao céu. / E um pássaro azul passou por detrás da janela./ E a tarde pôs-se
como se o sol sangrasse. / E o ar encheu-se de música / como se o próprio Deus
estivesse contente.”
Encanta-me a delicadeza deste encontro. As palavras e os silêncios, do anjo
e de Maria, são condição para o diálogo. Não há relação com Deus que não seja
diálogo, que não seja mútuo acolhimento, espaço para colocar as perguntas (e só
pergunta quem quer saber, e, no fundo, quem ama, não é verdade?) e para acolher
os sinais. Deste encontro de Nazaré, nasce o encontro de Ain-Karim com Isabel, e
Maria é imagem da Igreja no dinamismo constante de multiplicar os encontros que
Deus quer fazer com todos. Estar em anunciação e visitação constantes é condição
para vencer o isolamento e a autosuficiência, tantas vezes geradores de tristeza e
dureza de coração. Algum encontro dependerá de nós?
Pe. Vitor Gonçalves
in, Voz da Verdade
- A primeira leitura mostra (recorrendo à história mítica de Adão
e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e
preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência…
Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos
de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
- O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus.
Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e
radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou
salvação e vida plena para ela e para o mundo.
- A segunda leitura, tirada da liturgia do 2.º Domingo do Advento,
dirige-se àqueles que receberam de Jesus a proposta do “Reino”:
sendo o rosto visível de Cristo no meio dos homens, eles devem
dar testemunho de união, de amor, de partilha, de harmonia entre si,
acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis, a exemplo de Jesus.
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org