III Domingo da Quaresma - Ano A

30-03-2014 08:53

 

 

 

"Dá-me de beber.”

Jo 4, 7

 

Podemos falar de muitas sedes. Num primeiro momento, não é fácil pensar nos milhões de 

pessoas sedentas, do nosso planeta, que têm tanta dificuldade de acesso a àgua potável. 

Principalmente quando basta rodarmos uma torneira de casa para ela jorrar, abundante e 

cristalina. Consideramo-la um direito, e esquecemos que é um privilégio (segundo dados 

da ONU, 770 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte de água e 2,5

 biliões vivem sem saneamento básico). Alguém soube que 2013 foi o Ano Internacional da Cooperação pela Água? Mas a sede evoca também o desejo de uma vida mais plena, de 

uma felicidade a encontrar e a construir, da realização de uma vida com sentido.

Junto ao poço de Sicar, à hora em que o sol está no seu zénite e o calor é insuportável, 

duas sedes se encontram. A da samaritana e a de Jesus. No meio da desconfiança, Jesus 

ensina a confiar. Pede e oferece. Não se prende a barreiras e preconceitos. Escuta e acolhe 

as interpelações da mulher. Propõe pensamentos novos, revela a verdade sem condenar, 

convida a entrar numa relação que transforma tudo: quem pede de beber, afinal, é fonte de 

água viva; quem não merecia crédito, pelas infidelidades, torna-se motivo de confiança para

todos. A fé e a caridade entrelaçam-se, ensinam-nos que dar é também tudo receber do outro,

 para passarmos dos gestos solidários à fraternidade. A samaritana recebe o amor, Jesus 

recebe o testemunho, ela vence o medo e a vergonha, Jesus é reconhecido como Salvador

 do mundo. 

Contava o meu pai que tinha ajudado o meu avô a fazer alguns poços. Trabalho arriscado 

este de penetrar na terra para alcançar algum veio de água; pôr em risco a vida para fazer 

chegar à superfície a água que traz vida! Como é importante conhecer a terra e as suas 

camadas, as pedras a colocar na chaminé do poço, o diálogo que tem de haver entre a

 sabedoria e o risco, a confiança nos outros que aprofundam connosco! E lembro isto ao 

recordar o falecimento tão repentino de D. José Policarpo, meu Bispo e Patriarca de Lisboa

 durante os últimos anos. Deixou-me a sede de mais encontros e diálogos, na serenidade 

agora de uma vida não tão cheia de responsabilidades pastorais. E recordando muitos 

desses momentos junto à fonte da vida pastoral, na procura dos apelos de Cristo para o nosso 

tempo, gostava de sublinhar um dos seus desafios, que D. Manuel Clemente citou na homilia

 das suas exéquias: “Compreender os caminhos da missão num diálogo lúcido, mas repassado 

de amor, com o mundo contemporâneo”. Quanto diálogo, quanta abertura, quanto dar e receber 

isto implica de cada um de nós? Quanta pobreza partilhada, quanta sede que só se pode saciar, 

quando entramos numa relação mais profunda, como o esforço de fazer dos poços, não cisternas 

de águas paradas, mas ligações à fonte de águas vivas!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.

  • A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.
  • A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.
  • O Evangelho também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.

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