II Domingo de Páscoa - Ano A
"Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”.
Jo 20, 21
Enviados
Os relatos das aparições de Jesus Ressuscitado têm um sabor sempre renovado de surpresa. Como colocar em palavras este encontro do tempo e da eternidade, da vida plena de Deus com a provisoriedade humana, do Mestre e amigo que viram morrer na cruz e agora aparece vivo a saudá-los com as palavras habituais e tão novas: “Shalom aleichem!”? Ele tinha anunciado que ressuscitaria, mas como poderiam entender o que nunca tinha acontecido? Por isso é de surpresa em surpresa que vão caminhando, e gostaria de eleger “a surpresa” como condição própria de quem se dispõe a caminhar com Cristo e aceita estar atento ao Espírito Santo.
Surpresas boas mas também menos boas (quando nos tornamos “donos” do caminho e da verdade, esquecendo quem nos envia). A história da Igreja está cheia de umas e de outras, e que bom é percebermos como, no meio das nossas fragilidades, Deus não desiste de apostar nas coisas maravilhosas de que também somos capazes. De Pedro podemos sempre aprender como pode andar tão perto a negação e o amor, o medo e a ousadia. De Tomé a coragem de colocar questões óbvias e simples e a humildade de afirmar a fé total em Jesus. E de todos os apóstolos e apóstolas recebemos testemunhos feitos de luz e de trevas, de miséria e de grandeza. Só Deus vê (e ama) a totalidade de cada um, por isso nos pediu Jesus pra não julgarmos os irmãos e não desistirmos nunca da ressurreição de todos.
Hoje reconhecemos a santidade de dois Papas tão próximos de nós: João XXIII e João Paulo II. Neles as surpresas de Deus puderam manifestar-se de forma admirável. As suas fragilidades e imperfeições não foram obstáculo a recebermos, pelas suas vidas, este amor incondicional de Deus que a Páscoa de Jesus Cristo nos alcançou. Escancarando as portas e janelas da Igreja ao mundo com João XXIII, confirmando os irmãos na fé nas muitas viagens apostólicas com João Paulo II. De um e de outro guardamos momentos únicos de profunda comunhão com Deus e com o mundo que Deus ama. João XXIII, no seu “Diário íntimo” fala de duas graças que recebeu: “aceitar com simplicidade a honra e o peso do pontificado, com alegria de poder dizer que nada fiz para o provocar”, e “surgirem no meu espírito como simples e de execução imediata algumas ideias, nada complexas, pelo contrário bastante simples, mas de vasto alcance e responsabilidade em relação ao futuro, e com sucesso imediato” (acredito que todos recebemos esta última muitas vezes!). João Paulo II, na celebração do Jubileu do ano 2000, entre muitas formas de o celebrar, destacou o “sinal da purificação da memória: isto requer de todos um acto de coragem e de humildade para reconhecerem as faltas cometidas por quantos detiveram e detêm o nome de cristãos” (Bula Incarnationis mysterium, 11).
Por estes dias celebramos a liberdade que o 25 de Abril de 1974 “abriu”. E conjugamos de diversas formas a responsabilidade que toda a liberdade reclama. Assim na vida e na fé. A liberdade que a Páscoa de Jesus trouxe, é responsabilidade de todos pelo mundo novo que podemos construir. Ninguém deixou de ser enviado!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo apresenta-nos essa comunidade de Homens Novos que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.
- Na primeira leitura temos, na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço e que testemunha – com gestos concretos – a salvação que Jesus veio propor aos homens e ao mundo.
- No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
- A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã que a identificação de cada crente com Cristo – nomeadamente com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens – conduzirá à ressurreição. Por isso, os crentes são convidados a percorrer a vida com esperança (apesar das dificuldades, dos sofrimentos e da hostilidade do “mundo”), de olhos postos nesse horizonte onde se desenha a salvação definitiva.
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