II Domingo de Advento - Ano C

09-12-2018 08:45

 

“Preparai o caminho do Senhor,  endireitai as suas veredas.” Lc 3, 4

 

 

Sempre foi uma tradição lisboeta ir ver as luzes de Natal à Baixa e a outras ruas que se iluminam em Dezembro. Percorro-as também e invade-me, aos poucos, uma tristeza. Há luzes e muitas luzes, bolas e figuras geométricas, fachadas com faixas de alto a baixo, uma e outra árvore de Natal, árvores vestidas de luzes e estalactites luminosas a cair delas. Das imagens do presépio, só se salvou a estrela. E presépios de rua, para além dos que estão lá todo o ano, sob beirais e entre cartões, ainda não vi nenhum. Será que as estrelas poderão indicar o caminho para Aquele que deu origem ao Natal? 

De caminhos a preparar e veredas a endireitar, de montes e vales a aplanar se faz o anúncio inicial de João Baptista. Parece um ministro de obras públicas, atento às vias de comunicação que aproximam as pessoas e libertam do isolamento. O percursor retoma o apelo antigo e sempre novo de Isaías: Deus vem até nós por caminhos novos, e eles também dependem de nós. As vias abertas para passar os poderosos de todos os tempos, por onde desfilam os exércitos da guerra e o progresso dos privilegiados, e onde hoje correm os rios do dinheiro e a embriaguez do consumo, não levam ao encontro das pessoas. Os grandes da política e da religião daquele tempo já têm os seus caminhos habituais; João Baptista fala do caminho que vai direito ao coração, aquele em que a salvação pode ser oferecida.

Com mais ou menos presépios, luzes e presentes, interessa perguntarmo-nos pela presença de Jesus na vida dos que acreditamos n’Ele. Não como uma história bonita, ou uma mensagem moral. Nem como um hábito que se repete ou um dogma que se impõe. Que caminho fazemos com Ele e como O acolhemos nas nossas veredas? Saboreamos a sua salvação, que é dizer, o seu amor, e isso vê-se naquilo que fazemos? Não podemos alimentar-nos de uma doutrina religiosa; seríamos “funcionários” mas não amigos, nem irmãos! É preciso tempo e espaço para experimentar a sua presença em mim e nos outros. É Jesus, e com Jesus, que tudo se transforma!

Dá trabalho o Advento. E não é a azáfama de procurar os presentes nem de preparar a ceia. Trata-se de levar mais luz aos caminhos que ainda deixam as margens na escuridão e não se aventuram às periferias. Levar mais luz às trevas de isolamento e exclusão, dos que vivem sós, dos que são descartados do trabalho e duma dignidade de vida. Assumir a conversão que interpela o excesso de uns com a miséria de outros e compromete em mudanças significativas. Quantas ruas iluminadas ocultam montanhas de escuridão? Como vai lá chegar a luz que se chama Jesus?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Podemos situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os baptizados, chamados – neste tempo em especial – a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.

  • O Evangelho apresenta-nos o profeta João Baptista, que convida os homens a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.
  • A primeira leitura sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda, a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.
  • A segunda leitura chama a atenção para o facto de a comunidade se dever preocupar com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem.
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