I Domingo do Advento - Ano A
" Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”
Mt 24, 42
Por entre as decorações natalícias certamente já viram algum calendário do Advento,
em que, abrindo cada uma das 24 janelas, se encontra detrás um doce ou um desenho ou
uma palavra da Bíblia. Parece que foi inventado pelos irmãos luteranos alemães como
uma forma de preparar a festa do nascimento de Jesus. Os doces ou outras guloseimas
claro que foram pensados para as crianças, mas a ideia de preparação, de “janelas”
que vamos abrindo na vida para acolher Jesus é muito bela.
O convite à vigilância, a estar atentos à vinda de Jesus pode traduzir-se nesta imagem
de “abrir as nossas janelas”. Janelas do nosso olhar para os outros, do desejo do
encontro com Deus, da alegria em seguir Jesus. Sabemos que há mil e uma razões
e mil e uma maneiras de termos as janelas fechadas. Sofrimentos, preocupações,
desencantos, uma doença, uma perda de trabalho, um sonho que tarda em realizar-se.
E já experimentámos a escuridão em que todas essas situações nos fazem mergulhar.
Entrar em Advento convida-nos a um gesto de coragem de acolher a luz. Luz que pode
começar por ser a do sol: que aquece e ajuda a ver melhor, e até nos faz descobrir
tanta beleza que é oferecida inteiramente de graça. Depois a luz que, afinal, também
está nos outros, e em pequenas capacidades pessoais que não podíamos ver na
escuridão. Pode ser devagar essa abertura, mas importa que seja firme; a tentação de
desistir vai andar sempre a rondar.
Esperar a vinda de Jesus não é uma atitude passiva. Porque Ele vem no amor que
colocamos naquilo que fazemos, nos sonhos que não deixamos morrer, e também nos
sofrimentos que não adianta evitar. Vem quando nos comprometemos, quando nos
preocupamos (sem ser em excesso!) e até quando desanimamos. Vem nas ideias
luminosas, nos caminhos que ainda ninguém trilhou, na coragem de fazer melhor.
E se a iniciativa de vir até nós é de Deus, vamos ficar à espera aferrolhados por
preconceitos e temores? Ou “primeiramos”, como nos desafia o Papa Francisco
na Exortação “Alegria do Evangelho”, acabadinha de sair? Diz-nos: “A Igreja «em
saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se
envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o
neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o
Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1Jo 4,10), e, por isso, ela sabe
ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados
e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”(n.24).
Às vezes tudo começa por abrir as janelas, porque até o pó (que aparece não se
sabe de onde) se limpa melhor com mais luz. E se custa ver o que ainda está mal
e é causa de tanto sofrimento, é a partir desse olhar que podemos ajudar outros
a abrir os olhos (quem lhes chamou as “janelas da alma”?) e juntos pensar em
caminhos e soluções!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo apresenta um apelo veemente à vigilância. O cristão não deve instalar-se no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina; mas deve caminhar, sempre atento e sempre vigilante, preparado para acolher o Senhor que vem e para responder aos seus desafios.
- A primeira leitura convida os homens – todos os homens, de todas as raças e nações – a dirigirem-se à montanha onde reside o Senhor… É do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que resultará um mundo de concórdia, de harmonia, de paz sem fim.
- A segunda leitura recomenda aos crentes que despertem da letargia que os mantém presos ao mundo das trevas (o mundo do egoísmo, da injustiça, da mentira, do pecado), que se vistam da luz (a vida de Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que caminhem, com alegria e esperança, ao encontro de Jesus, ao encontro da salvação.
- O Evangelho apela à vigilância. O crente ideal não vive mergulhado nos prazeres que alienam, nem se deixa sufocar pelo trabalho excessivo, nem adormece numa passividade que lhe rouba as oportunidades; o crente ideal está, em cada minuto que passa, atento e vigilante, acolhendo o Senhor que vem, respondendo aos seus desafios, cumprindo o seu papel, empenhando-se na construção do “Reino”.
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