Epifania do Senhor - Ano A
"Ao ver a estrela sentiram grade alegria”. Mt 2, 10
Que estrela?
“Ei-los que partem / novos e velhos / buscando a sorte / noutras paragens / noutras aragens / entre outros povos / ei-los que partem / velhos e novos”, cantava assim Manuel Freire no longíquo 1968, e o poema voltou a ter uma actualidade premente. Mudou muito o mundo, que passou a ser mais global, e tantos procuram longe a estrela que não encontram perto. É verdade, sempre fomos um povo que sofre de saudades, mas não tememos as terras distantes para aí construir a vida. Em dia de visita ao presépio dos magos estrangeiros, quero desejar que todos encontrem a possibilidade de realizarem sonhos e projectos.
Os magos, que a tradição transformou em reis, não se puseram a caminho por necessidades materiais. Trabalho e rendimentos não lhes deviam faltar, mas um sonho e um tesouro maiores os desistalaram. O brilho da estrela parecia dar resposta à sede de sentido das suas procuras. Numa belíssima parábola sobre o propósito da vida o recente filme de Bem Stiller, “A vida secreta de Walter Mitty” apresenta a história de um homem instalado que vive sonhos de aventura sem nunca os realizar. E ainda que trabalhe numa revista de fotografia que tem como lema “Ver o mundo e os perigos que virão, ver por trás dos muros, chegar mais perto, encontrar o outro e sentir. Esse é o propósito da vida”, só a muito custo irá experimentar o risco e a mudança. Claro que não é um mago à procura do presépio, mas o brilho que lhe nasceu nos olhos abre caminhos novos. Como é tão verdade a palavra insistente de Jesus: “Procurai e achareis!”
A estrela que guia mas que também desaparece é condição de quem se dispõe a caminhar. Há um trabalho que nenhuma estrela pode fazer por nós, como aconteceu aos magos que tiveram de ir à “boca do lobo” fazer a terrível pergunta: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?” E é precisamente aí que surge o sinal para a última etapa do caminho: “em Belém”, dizem as escrituras. As linhas tortas com que Deus escreve direito revelaram-se uma vez mais. Ah, quantas vezes procuramos situações ideais e há ajudas que nos surgem de onde menos esperamos!
Da estrela, e da procura a que ela nos convida, guardo com encanto o final de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen: “Ao lado do hospital e da prisão / Entre o agiota e o templo profanado / Onde a rua é mais triste e mais sozinha / E onde tudo parece abandonado / Um lugar pela estrela foi marcado / Nesse lugar pensei: «Quanto deserto / Atravessei para encontrar aquilo / Que morava entre os homens e tão perto”. Mais longe, ou mais perto, encontramos Jesus entre os homens!
P. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens… Ele é uma “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projecto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa “luz” incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.
- A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo.
- No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os “magos” do oriente, representantes de todos os povos da terra… Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-n’O com esperança até O encontrar, reconhecem n’Ele a “salvação de Deus” e aceitam-n’O como “o Senhor”. A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem excepção.
- A segunda leitura apresenta o projecto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos – a comunidade de Jesus.
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org