Domingo de Ramos - Ano B

25-03-2018 08:53

 

“Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos.” Mc 15, 31-32

 

 

 

Há três gritos que fazem eco nas celebrações da Páscoa. Três gritos dirigidos a Jesus: o primeiro de aclamação, o segundo de raiva e ódio, e o terceiro de alegria jubilosa. Gritos de homens e mulheres, de multidões diferentes mas tão próximas, de pessoas anónimas e conhecidas, gritos meus também. “Hossana” quando Jesus entra em Jerusalém; “Crucifica-o!” ao responderem a Pilatos; “Aleluia” desde a aurora da ressurreição. É o caminho da glória humana, sempre atraiçoada pela morte, mas renovada pelo amor até o fim, o único que não tem mais fim.

O acolhimento messiânico que Jesus não rejeita tem a marca de um entusiasmo pouco enraizado. É a dificuldade de aclamar um rei “que não é deste mundo”, mesmo que desejássemos muito que ele trouxesse a solução todos os problemas. Haverá sempre equívocos sobre o poder de Deus enquanto não nos identificamos com o seu poder que é servir, amar e dar vida. “Nós somos fortes dominando; Deus é forte submetendo-se”, dizia François Varillon. E se refazemos em liturgia esta aclamação com ramos, num caminho feito juntos, o vermelho das vestes dos padres lembra que é com sangue dado por amor que existe salvação. Porque ninguém se salva sozinho! 

Ouvir a narrativa da Paixão escrita por S. Marcos, o primeiro a escrevê-la, parece convidar-nos a fazermos parte dela. A identificarmo-nos com os muitos personagens, a olhar para Jesus a partir de muitos pontos de vista, e a reconhecermo-nos em alguns. Talvez nos revejamos nos discípulos, ora adormecidos, ora em fuga; quem sabe, em Simão de Cirene, a levar uma cruz que não é nossa; ou nas mulheres a observar onde punham o corpo de Jesus. Não acreditaríamos também melhor se Ele se salvasse a si mesmo e saísse da cruz, como dizem alguns? Impressiona o crescente silêncio de Jesus; no fim, já só se dirige ao Pai. E é um pagão, o executor da sentença, que ao vê-l’O expirar faz a mais cristã das afirmações: “…este homem era Filho de Deus”! 

A identificação com Jesus é possível porque Ele se identificou connosco. Deus surpreende no seu rosto crucificado. É o rosto de todos os crucificados, de todos os tempos e lugares. Não há cristianismo onde haja esquecimento de quem sofre. Quando a cultura da indiferença e do acomodamento atrofiam a fome e sede de justiça, e adormecem o amor concreto aos crucificados do mundo, o culto a Deus é falso e escandaloso. É lembro-me do que dizia B. Franklin, certamente num plano educativo: “O que me dizes, esqueço; o que me ensinas, lembro; aquilo em que me envolves, aprendo!” Silenciosamente, Jesus envolve-nos no único poder que transforma e salva: esvaziar-se para amar e servir!

Padre Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.

  • A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
  • A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
  • O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.

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