Domingo de Pentescoste - Ano B
“Soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo».” Jo 20, 22
“O futuro…, a Deus pertence”! Quem nunca ouviu ou usou esta expressão? Presente em ditos populares e até na sabedoria bíblica, pode traduzir inúmeras atitudes que vão da esperança à desistência. Do entusiasmo ao medo do futuro, a verdade é que também somos responsáveis pelo amanhã. E se na esperança cristã acreditamos que o próprio Deus e a sua vida plena são o nosso futuro, Jesus Cristo compromete-nos com o dia que se chama “hoje”, com o tempo e o espaço que vivemos, com a ressurreição quotidiana do amor. A descida do Espírito Santo que culmina a Páscoa é sinal eficaz do futuro, já hoje!
Desejamos saber para onde vamos. E há realidades e reflexões em torno do futuro que são interpeladoras. Partilho duas. Numa reportagem de Inês Rocha na webtv da Renascença, intitulada “Bons cidadãos vs maus cidadãos. Como a China está a excluir quem não interessa”, dá-se a conhecer o “sistema de crédito social na China”. Nele é possível um estado decidir se alguém “é bom ou mau cidadão consoante as compras que faz, os hobbies que tem, com quem se dá e que tipo de mensagens que publica nas redes sociais”, atribuindo uma pontuação, promovendo uns e excluindo outros. Noutra reportagem, de Diogo Queiroz de Andrade, no Jornal Público (30.04.2018), dá-se a conhecer o pensamento de Gerd Leonhard, um futurista preocupado com a ética da evolução tecnológica, empenhado em “limitar aquilo que diz ser o culto da eficiência, que põe em causa a essência da humanidade.” Fala da inteligência artificial, do trabalho que a tecnologia suprime, da importância da transmissão dos valores humanos (“Como é que vamos fazer as crianças entender compaixão, empatia e criatividade? Nada disto se aprende na escola, mas sim a viver.”) e da derradeira questão da tecnologia: “se faz o ser humano feliz, se proporciona mais avanços para os humanos, se cria uma sociedade melhor. E se a resposta for não, devíamos pensar em não a utilizar ou em implementar algumas restrições.”
O Espírito Santo está sempre a abrir futuros. Como Jesus, que a cada um que d’Ele se aproximava, prisioneiro de doenças ou demónios, condenado ou excluído, prestes a ser apedrejado ou triste por uma traição, lhes abria caminhos novos. Não há becos sem saída quando nos abrimos a Deus. Pois salvar é isso mesmo: dar futuro a quem não o tinha! Assim, é urgente acolher o Espírito Santo que recria possibilidades de vida onde se defende a morte, que promove laços entre as pessoas onde se difundem distracções e consumo, que liberta e promove as pessoas onde se propagam novas escravidões.
Desde a tarde daquele primeiro dia da semana, nunca mais o Espírito Santo deixou de soprar. E para o futuro avança-se sem medo, falando novas línguas para que todos nos entendamos, anunciando e vivendo o amor que Deus tem a todos.
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo.
- O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que Jesus viveu até às últimas consequências.
- Na primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a lei nova que orienta a caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e culturas.
- Na segunda leitura, Paulo avisa que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos.
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