Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor - Ano C

17-04-2022 08:23

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"Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro

viu e acreditou"Jo 20, 1-9

 

Maria Madalena corre. Pedro corre. O outro discípulo também. Após a imobilidade da paixão e da sepultura de Jesus, aquela manhã primeira do mundo novo, que nasceu igual a todas as outras, é testemunha de um movimento inesperado. Um sepulcro vazio e a ausência de um corpo causam o maior rebuliço da história. Se sempre foi assim, os mortos normalmente não partem em viagem, onde iremos parar se a morte já não os mantém quietos? Da ausência vista à presença acreditada vai o caminho da fé. Aquele que o “outro discípulo” fez imediatamente. 

Este “outro discípulo”, talvez o “discípulo que Jesus amava” nunca aparece com nome. Começou-se a identificá-lo com o apóstolo S. João. Creio que ele não tem nome para que possamos dar-lhe o nosso. Presente nos grandes momentos, é o segundo a entrar no sepulcro, mas o primeiro a acreditar. Acredita porque viu. E o que viu? As ligaduras e o sudário que tinham envolvido Jesus. Os sinais de um morto. E acreditou que Ele estava vivo. Quanto a entender… isso iria demorar mais tempo… e demora ainda! Mas não impede de viver o dinamismo da Ressurreição! 

Cada um, à sua maneira, é chamado a ser testemunha da Ressurreição. Como Pedro e João aceitemos entrar e sair diferentes do túmulo. A força da Ressurreição está derramada no íntimo do universo. A morte foi vencida pela abundância do amor de Deus, mas porque somos de barro e Deus ama a nossa liberdade, a cada um compete escolher entre a morte e a Ressurreição. Uma é fácil, a outra, difícil; uma, fechada, a outra, aberta; uma desesperada, a outra, confiante; uma, destrutiva, a outra, construtora: uma fatalista, a outra, animadora; uma individualista, a outra, comunitária; uma, orgulhosa, a outra humilde; uma, para o tempo, a outra para a eternidade! E a eternidade é a abundância de tudo o que é verdadeiramente bom. Como os laços de amor que vamos fazendo! 

Habitados por este movimento de passar pela morte a mais vida, pelas trevas a “mais luz” (como dizia Goethe ao morrer), pelas perdas a maior encontro, não nos podemos instalar como cristãos e como Igreja. O fogo, a palavra, a água, o pão e vinho da noite pascal comunicam-nos a vida sempre nova de Cristo. Conhecê-l’O, escutá-l’O, amá-l’O, partilhá-l’O é tarefa sempre incompleta. Habitamos a margem intranquila de um rio que não seca. Foi-nos dado um fogo que não se apaga e tem ânsia de comunicar-se aos corações gelados pelo medo e pela culpa. Escutamos uma palavra que tem a força das sementes quando caem na terra. Conhecemos um pão e um vinho que matam a fome a sede de amar em verdade. Vemos, acreditamos e ainda não entendemos completamente!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto. 

  • A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens. 
  • O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida não podem nunca ser geradores de vida nova; e o discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta – a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira. 
  • A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo Baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova, até à transformação plena que acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última fronteira da nossa finitude.

Grupo Dinamizador:

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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