Domingo de Páscoa - Ano B

04-04-2015 20:49

"Correu então e foi ter com Simão Pedro (…) Corriam os dois juntos…”. Jo 20, 2.4

 

 

Foi agitado aquele primeiro dia da ressurreição. Não se faz algo decisivamente novo sem vencer a preguiça e a inércia, e nada é mais novo, num mundo conformado com a morte, que a notícia da sua derrota. Madalena corre do sepulcro vazio até Pedro e João, e estes correm a confirmar o ineperado. Que outras correrias desse dia não nos guardaram os evangelhos, para culminar na dos discípulos de Emaús, já noite avançada, para contar que Jesus tinha estado com eles a partir o pão? Como correria o sangue nas suas veias, quando Jesus se fez presente na sala em que estavam, sem bater à porta?          

A nossa vida tem muitas corridas. Algumas que nos desgastam: os transportes…, o trânsito…, os afazeres…, os atrasos…, o correr dos ponteiros do relógio…, os trabalhos ou a sua procura…, as urgências…, tudo parece arrancar-nos pedaços de vida e ansiamos pela calma. Outras que nos animam: as do desposto…, da caminhada com amigos…, para os primeiros lugares num concerto…, ao encontro de quem se ama…, com os filhos em alegre disputa…, à beira-mar…, numa planície alentejana ou nuns montes do Gerês…, aí tudo parece completar-nos. Nunca se correu tanto na história do mundo. Basta olhar as corridas organizadas, maratonas e rail’s, com as várias dimensões de desafio, competição e confraternização, e descobrir como a alegria de correr com outros é tão gratificante. Quantos encontram luz e paz interior numa simples caminhada! Pois é, Jesus começou por chamar os discípulos para andarem com Ele. Não estaria já a preparar a corrida da ressurreição?  

A Páscoa de Jesus desinstala-nos e “despantufa-nos” das rotinas e da preguiça. E também desfaz o medo, esse um autêntico “colesterol mau”, a entupir as artérias e veias por onde quer correr o sangue da vida abundante de Deus. Sem a Páscoa tornamo-nos obesos, cheios de mil e uma justificações para ficar no quentinho de uma “vidinha” religiosa, bem medida e suficiente, de livro de “Deve e Haver” que havemos de apresentar a Deus com saldo a nosso favor. Mas a “Igreja em saída”, de que tanto fala o Papa Francisco, pode comparar-se a esse dinamismo que convida à simplicidade de calçar uns ténis e vestir uns calções e percorrer os caminhos habituais ou desconhecidos com uma presença mais fraterna e disponível para o encontro com outros.E como “quem corre por gosto não cansa”, talvez possamos lembrar S. João da Cruz que dizia:" O amor não cansa nem se cansa"; ou até o psiquiatra Daniel Sampaio numa recente entrevista:  "Temos de luatr pelo amor, vale bem a pena. (...)" Temos de fazer o esforço de nos colocar no lugar do outro, no que o outro está a sentir."

 

Há uma corrida que começou na Páscoa de Jesus e se renova em cada Páscoa anual. Não é facultativo estar nesse dinamismo, em que desenvolvemos “músculos e esqueleto”, “pulmões e coração” para crescer à imagem de Jesus e transformar o mundo. Nem todos corremos com os mesmos ritmos, há velocistas e maratonistas, e até o caminhar é renovador: mas a salvação vive-se em movimento. A corrida pascal que começou naquela manhã só tem por meta a vida surpreendente do Céu!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.

  • A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens.
  • O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida não podem, nunca, ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta (a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira).
  • A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova, até à transformação plena (que acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última barreira da nossa finitude).

 

scj.lu@netcabo.pt – www.ecclesia.pt/dehonianos