Domingo da Ressurreição - Ano A
"Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho
e nos explicava as Escrituras?”
Lc 24, 32
Quando comecei a entender melhor a maravilha da festa da Páscoa descobri também este texto espantoso que se lê na tarde do Domingo da Ressurreição. É chamado o episódio dos “discípulos de Emaús”, mas poderia chamar-se “Jesus nos nossos caminhos” ou “a Igreja em estado de caminho”! Deslumbra-me a delicadeza de Jesus em relação ao desalento dos dois, às suas dúvidas, às “noites escuras” que tantas vezes surgem. Depois, não força a sua presença; fica porque lhe pedem! A hospitalidade é virtude importante no tempo de Jesus e, neste momento, como que fica consagrada esta atitude para todos os tempos: “quem acolhe alguém, acolhe o próprio Deus!”
Em casa, no recolhimento e na partilha da mesa e do pão, eles reconhecem Jesus quando Ele lhes “faz a Ceia”. É então que o calor do seu coração ganha nome, Jesus abriu-lhes o entendimento e agora abre-lhes os olhos. Não O vendo, veem tudo. “Então é verdade! Que fazemos ainda aqui? Como podemos dormir sem contar a ninguém?” E o caminho torna-se curto no regresso a Jerusalém! Ah, que desejo tenho deste caminho de Emaús para todos nós, hoje, em 2023, ao celebrar a Páscoa deste ano.
Como temos feito desta história de Igreja o espaço e o tempo para fazer “arder os corações”? Que temos feito desta alegria jubilosa que escancara portas e derruba muros, e atrai quem a experimenta? Temos demasiado o desejo da perfeição e menos o do crescimento. Quantas vezes a fé é “instrumento para pedir coisas feitas a Deus”? Quantas vezes desanimam aqueles que só fizeram uma ou duas tentativas?
A Páscoa significa “passagem”. Passar do ódio, da vingança, da opressão, do domínio, do poder, à única realidade que faz “arder o coração”: o Amor. Quando paramos, por dentro ou por fora, é porque nos instalámos no consolo da nossa mediocridade. Todos temos os nossos caminhos de Emaús. Mas será que os percorremos como aqueles dois discípulos? Será que gostamos de partilhar as inúmeras “revelações” de Deus? Onde crescem essas pequenas comunidades de cristãos, animados pela presença de Jesus, onde a fé se vai cozendo tão bem com a vida, que já não se distinguem? O tempo pascal é um grande caminho; cinquenta dias, “novinhos em folha”, para encher com a alegria de estarmos a caminho com Jesus. E cada passo adiante, de certeza que “fará arder algum coração”!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.
- A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens.
- O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida nunca podem ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta (a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira).
- A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova até à transformação plena (que acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última barreira da nossa finitude).
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho