Ascensão do Senhor - Ano C
“Havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações.” Lc 24, 47
São os últimos momentos de Jesus com os discípulos. Não apenas com os Doze, mas com o “pequenino rebanho” de homens e mulheres com quem viveu intensamente aqueles três anos. Não vai conduzi-los pela mão, nem deixa “manual de instruções” para a missão. Descobriremos a sua presença abrindo-nos ao Espírito e anunciaremos a vida pascal em seu nome. Páscoa, Ascensão e Pentecostes são um mesmo mistério: a vida plena de Deus nas nossas vidas por Ele renovadas. Os sacramentos serão sinais eficazes do amor e da ternura que jorram do seu coração. E em tudo o mais, a liberdade e a criatividade que fazem crescer.
S. Lucas inclui a “missão” no conteúdo do anúncio pascal: morte, ressurreição e pregação (kerygma). O acontecimento que revoluciona a história não é para ficar guardado em registos históricos ou monumentos. É portador de vida nova que deseja chegar a todos. É a Pessoa-Acontecimento que enche de sentido os nossos sonhos e dá fundamento a um viver autêntico. Por isso, a pregação, é “em seu nome”: Ele é origem, conteúdo e fruto. E mais do que as palavras, diz melhor a vida em abundância dos anunciadores. Assim, o arrependimento (conversão) e o perdão, renovam a vida de todos. A revelação de Deus no Amor que dá a vida por todos, no perdão maior do que os pecados, muda a nossa mentalidade teológica e humana. Mas “como hão-de acreditar naquele de quem não ouviram falar”, dirá S. Paulo (Rom 10, 14)?
A fé cristã não é “ficar a olhar para o céu” esquecendo o que se passa à nossa volta. O “Céu”, que não é um sítio no espaço ou a tela de fundo azul que a atmosfera terrestre produz e onde os pardais voam, começa dentro de cada um de nós. É a vida divina que o Espírito Santo derrama em todos os que abrem o coração a Deus. Porque começamos a viver como Jesus. A fazer comunhão ainda que os egoísmos teimem em destruí-la. A trabalhar pela paz e pela justiça ainda que muitas sedes de poder ergam obstáculos. É quando olhamos à volta e vemos o que pode ser melhor e mais belo, que descobrimos a vontade de Deus. E com outros, inventarmos novos gestos de compromisso!
Na mensagem para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco fala das “redes sociais” como recurso para construção de encontro e comunidade: “O panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade. Por maior força de razão nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma relação, um encontro; e nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar, acolher e compreender o dom do outro e corresponder-lhe.[…] Esta é a rede que queremos: uma rede feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres.
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere que, no final de um caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, em comunhão com Deus. Sugere, também, que Jesus nos deixou o testemunho e que somos agora nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
- O Evangelho apresenta-nos as palavras de despedida de Jesus que definem a missão dos discípulos no mundo. Faz, também, referência à alegria dos discípulos: essa alegria resulta do reconhecimento da presença no mundo do projecto salvador de Deus e resulta do facto de a ascensão de Jesus ter acrescentado à vida dos crentes um novo sentido.
- Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus – a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo caminho de Jesus. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante, mas têm de ir para o meio dos homens continuar o projecto de Jesus.
- A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa esperança de mãos dadas com os irmãos – membros do mesmo “corpo” – e em comunhão com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”. Cristo reside nesse “corpo”.
Pe. Joaquim Garrido – Pe. Manuel Barbosa – Pe. Ornelas Carvalho