Ascensão do Senhor - Ano A
“Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações.” Mt 28, 18-19
Sempre gostei dos anjos que o evangelista Lucas “pintou” no seu relato da Ascensão. Porque, mais do que “comprovarem” que o céu de Deus é para o alto, a seguir ao dos “pardais”, acordam os apóstolos da sua contemplação e não pactuam com a lagriminha no olho. A despedida de Jesus não é uma despedida, mas a confirmação da sua presença de Ressuscitado. E é assim, com a força do Espírito Santo, que Ele chegará ao coração do mundo, pelas palavras e pela vida dos que dizem acreditar n’Ele. Trata-se de olhar para o longe, pois, no aparente afastamento de Jesus a vida ganhou horizontes infinitos, mas com as mãos e os pés no perto, que precisamos tornar melhor e mais belo.
Lembrar a grandeza do horizonte é estar animado pela esperança. A esperança realista e não ingénua, que conhece a maldade e a fealdade, infelizmente tão frequentes, mas não desiste de promover a criatividade e a generosidade que são ainda maiores. Pois a esperança faz isso: onde se via um beco sem saída ela descobre alternativas, onde tudo parecia ser o fim ela inventa novos começos, onde a verdade estava prisioneira, ela ensina a escavar um túnel. “Lembra-te, Red, a esperança é uma coisa boa, talvez a melhor de todas, e nenhuma coisa boa morre!” A frase é de Stephen King, o autor norte-americano de terror e suspense, e é dita no filme “Os Condenados de Shawshank”.
“Comunicar esperança e confiança no nosso tempo” é o tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Celebrado há 51 anos, é um dia dedicado aos comunicadores, e aí não estamos incluídos todos nós, produtores e distribuidores de “notícias” que podem chegar a milhares de pessoas? Que “boas notícias” recebemos e espalhamos? Com que “óculos” lemos a realidade, e como educamos o sentido crítico para a leitura de outros? “Para nós, cristãos,” diz o Papa Francisco, “os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o «Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus» (Mc 1, 1). [...] Em Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana, revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que nunca pode esquecer os seus filhos. «Não tenhas medo, que Eu estou contigo» (Is 43, 5)”. As parábolas de Jesus, com as imagens e metáforas que falam da humildade e da força das sementes, e as novas parábolas que podemos inventar, dão espaço à liberdade e despertam para a beleza da vida nova em Cristo.
Na escolha do que lemos e ouvimos, no olhar de perto e de longe, e em tudo o que comunicamos exprimimos quem somos e o que desejamos. O imediato e o sonho precisam interpelar-se reciprocamente, para não nos fecharmos no umbigo nem pairarmos sobre o real. Assim, diz o Papa Francisco, “o fio, com que se tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador”. Detetar esse fio por entre os acontecimentos, por entre as pessoas e as realidades que se transformam, mostrá-lo e ensinar todos a vê-lo, fazê-lo nosso em abundante sementeira que outros irão colher, não será já o possível que está ao nosso alcance?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A Festa da Ascensão de Jesus, que hoje celebramos, sugere que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
- O Evangelho apresenta o encontro final de Jesus ressuscitado com os seus discípulos, num monte da Galileia. A comunidade dos discípulos, reunida à volta de Jesus ressuscitado, reconhece-O como o seu Senhor, adora-O e recebe d’Ele a missão de continuar no mundo o testemunho do “Reino”.
- Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus – a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo “caminho” que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio dos homens, continuar o projecto de Jesus.
- A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa “esperança” de mãos dadas com os irmãos – membros do mesmo “corpo” – e em comunhão com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”. Cristo reside no seu “corpo” que é a Igreja; e é nela que Se torna, hoje, presente no meio dos homens.
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