Apresentação do Senhor - Ano A
"O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor”.
Lc 2, 26
A alegria do nascimento de Jesus prolonga-se, no Evangelho de São Lucas, na
festa da sua apresentação no Templo, cumprindo a lei judaica. E a nós, já sem
luzes e só com os saldos que “prolongaram” o Natal, passaria despercebida esta
festa não fosse calhar a um Domingo. Depois dos pastores, são dois “velhinhos”,
Simeão e Ana, os que vão experimentar a alegria de um encontro esperado e
surpreendente. Assim, esta festa reveste-se de várias tonalidades e usos pastorais:
bênção das crianças recém-baptizadas ou recém-nascidas, acção de graças
pela vida consagrada, celebração pela vida longa dos mais idosos. E entre o início
da vida, a vida comprometida em serviço de Deus e dos irmãos e o entardecer da
vida que, “se Deus nos der vida e saúde, todos havemos de lá chegar” (como dizia
a senhora Maria nos seus 87 anos) escolho o último para estas palavras.
No número do 2º semestre de 2013 da revista “Cidade Solidária”, da Misericórdia de
Lisboa, são apresentados os resultados de um inquérito sobre os idosos e o isolamento
na cidade de Lisboa. Dos 22679 inquiridos, 60% tinham mais de 75 anos, 80% tinham
filhos vivos, 86% viviam em andares, 1/3 vivia só (410 muito isolados e 4256 isolados),
87% viviam da pensão de reforma, sendo a maioria dos sós, viúvas e pessoas solteiras.
Não seriam precisos estes dados para constatarmos uma realidade que nos toca e faz
sofrer a todos. Agora e nas perspectivas do futuro! E se a vida longa é considerada uma
bênção nos textos da Bíblia, uma riqueza para as sociedades quando se valoriza a
sabedoria e o reconhecimento dos mais velhos, o estado social treme quando se fixa
nas contabilidades, e o tempo de todos parece sempre ser diminuto mesmo para os
familiares mais chegados. A mentalidade utilitária e descartável, dispersa na procura
egoísta do prazer e na exaltação da juventude, recusa enfrentar com lucidez a perspectiva
de um envelhecimento que nos atingirá a todos. Que pode ser vivido não como condenação
mas como oportunidade, com aceitação e reconciliação, com simplicidade e sabedoria.
É aí que podemos deixar entrar o Espírito Santo!
Simeão e Ana experimentaram a alegria do encontro com Jesus porque acolheram o
Espírito Santo. Não se fecharam no lamento ou na amargura, mas confiaram na esperança.
E essa intimidade com Deus certamente começou muito antes da velhice. Trata-se de viver
na fé e olhar com os olhos de Deus o que nos rodeia. Com generosidade e criatividade,
empequenas redes de vizinhança e proximidade, muitos isolamentos acabariam. Quantos
“Simeões e Anas” esperam um encontro luminoso que paróquias, movimentos, famílias,
amigos, poderíamos desencadear? E com que beleza queremos pintar o nosso entardecer?
Pe. Vitor Gonçalves,
in Voz da Verdade