7º Domingo do Tempo Comum - Ano A

19-02-2017 09:16

 

“Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem.” Mt 5, 44

 

 

Uma das perguntas que gosto de fazer aos mais pequenos é esta: “o que queres ser quando fores grande?” Alguns já têm uma resposta na ponta da língua, outros ficam indecisos em duas ou mais hipóteses, outros ainda... não sabem! Por muitas voltas que demos à vida e ela nos dê, gosto dos sonhos que nos motivam a ir mais além. E se é natural os rapazes sonharem em “ser Ronaldos” e as meninas “cantoras ou artistas”, é estranho ouvir muitos adolescentes que não querem ser nada, desistindo de sonhar tudo o que exija algum esforço. É então que lembro o ideal olímpico, “Citius, Altius, Fortius” (mais rápido, mais alto, mais forte) criado pelo P. Henri Didion, um dominicano amigo do criador dos Jogos Olímpicos Modernos, o Barão Pierre de Coubertin. No desporto, como na vida, o sinal “mais” é desafio de crescimento e perfeição.

No alto da montanha Jesus parece apontar um ideal olímpico para a vida e para a fé. Ultrapassar a “justiça não excessiva” da lei de talião, de a uma falta corresponder um castigo equivalente, propondo, não só a não-violência, mas a surpresa de uma dádiva inesperada, parece escândalo e loucura. M. Gandhi, depois de ler o Evangelho, escreveu: “Lendo toda a história desta vida..., parece-me que o cristianismo continua por realizar... Enquanto não tivermos arrancado a raiz da violência da civilização, Cristo ainda não nasceu.” Jesus convida a recusar a violência como caminho ou solução. Ela destrói sempre, gera uma reação em cadeia que não tem fim. Só a coragem de transformar a agressividade em relação ao outro na surpresa de valorizar a vida e a paz, de se libertar do passado para sonhar um futuro melhor, podem ser criadores.

Mas Jesus vai mais longe e propõe a radicalidade do amor aos inimigos. Nunca ninguém falou assim. É a introdução na história de uma atitude nova diante do inimigo, que não procura a sua destruição, mas o reconhece como filho de Deus. De facto, Jesus fala agora abertamente do amor do Pai, “que faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos”, e pede-nos para sermos como Ele. Deus que não exclui ninguém do seu amor atrai-nos a viver como Ele. É esta a medida alta do cristianismo que não podemos pôr de lado. Mas como é possível amar quem nos magoa, odeia e quer mal? M. Luther King, outro defensor da não-violência, dizia que não conseguia gostar de quem o odiava e até maltratava, mas porque era cristão “queria amá-lo”!

Creio que está aqui o segredo. O importante é já “querer amar”! E como os desportistas que procuram bater os seus recordes, ir treinando! Treinando muito! Treinar a arte de arrancar a vingança e a violência dos pensamentos, das palavras e dos gestos, que crescem sem darmos conta. E voltam a crescer quando menos esperamos. Treinar a “pôr-nos no lugar do outro” e a “calçar os seus sapatos”. Treinar a rezar por ele, pedindo a Deus o bem que mais precise. Treinar a descobrir as suas qualidades e dons. Treinar a confiar tudo nas mãos de Deus. Treinar a sonhar que é possível ir mais longe!

Padre Vitor Gonçaves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do sétimo Domingo do Tempo Comum convida-nos à santidade, à perfeição. Sugere que o “caminho cristão” é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical (feito de gestos concretos de amor e de partilha) com a dinâmica do “Reino”. Somos, assim, convidados a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que nos espera no final da viagem.

  • A primeira leitura que nos é proposta apresenta um apelo veemente à santidade: viver na comunhão com o Deus santo, exige o ser santo. Na perspectiva do autor do nosso texto, a santidade passa também pelo amor ao próximo.
  • No Evangelho, Jesus continua a propor aos discípulos, de forma muito concreta, a sua Lei da santidade (no contexto do “sermão da montanha”). Hoje, Ele pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza nem discrimina ninguém (nem mesmo os inimigos). É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.
  • Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto – e os cristãos de todos os tempos e lugares – a serem o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, eles devem renunciar definitivamente à “sabedoria do mundo” e devem optar pela “sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total).
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