6º Domingo do Tempo Comum - Ano B

11-02-2018 08:56

 

 

 

" Quero: fica limpo!” Mc 1, 41

 

 

O encontro com a diferença é sempre surpreendente. E surgem instintivamente os sentimentos de defesa e a procura de segurança. Não sabemos, não conhecemos, não estamos habituados: que mal nos poderá vir dali? É assim que a ignorância, a distância e a proteção do adquirido são os primeiros obstáculos a superar para que haja encontro. Pelos sentidos recebemos as primeiras impressões, e há quem nunca passe além delas, mas só o tempo e o contacto poderão proporcionar as melhores descobertas.

Nunca vi um leproso ao vivo, mas as imagens de pessoas com esta doença impressionam verdadeiramente. E dói saber que ainda hoje cerca de 220 mil pessoas contraem esta doença em cada ano. Com os esforços de tantos, entre eles S. Damião e Raoul Follereau, muito se tem avançado para combater a pobreza, a falta de higiene e as condições básica de vida que a provocam. Cerca de um milhão de pessoas é curada todos os anos.

O leproso que se aproxima de Jesus vence a barreira da distância estabelecida pela Lei. E Jesus ultrapassa a proibição de tocar num leproso. Sabe que isso significa assumir a condição de leproso: ser excluído, afastado do convívio familiar, religioso e social, viver quase como um animal. Mas a compaixão que lhe enche o coração não encontra fronteiras. Nenhuma Lei é maior do que a graça de poder salvar aquele que estava como morto. Não é Deus que exclui; somos nós que o fazemos com as nossas leis e os nossos medos. Para Jesus, em primeiro lugar está a pessoa, e não o pecado, a impureza ou a norma que distancia. Perder a sensibilidade ao concreto da existência de cada um, à sua história e ao seu desejo de futuro, é endurecer o coração, chegando à ousadia de nos colocarmos no lugar de Deus, julgando-nos superiores ao outro.

Mais do que a doença da lepra, o que está em causa neste milagre são as muitas exclusões que facilmente criamos e deixamos crescer. A pobreza e a miséria não são também lepra? A injustiça, a desigualdade económica, a corrupção, a discriminação moral e social, a indiferença aos que mais sofrem, os preconceitos, o esquecimento dos mais velhos, a desvalorização da vida, não são lepra também? E que lepras ainda persistem nos campos espirituais e religiosos? Quem não gostaria de ter o “toque” de Jesus para curá-las imediatamente? A verdade é que Ele no-lo deu e o problema é que “queremos pouco” realizá-lo!

Está tudo no relato de S. Marcos. Primeiro é preciso sermos compadecidos, isto é, enchermo-nos da ternura de Deus, pôr em primeiro lugar a realidade de quem sofre. Depois, estender a mão e tocar, sair dos confortos e condomínios fechados de riquezas podres e ideias esclerosadas que nos aprisionam, ser com o outro e para o outro, partilhar e promover. E por fim, dizer, espalhar aos quatro ventos, gritar, convocar tudo e todos para essa vontade: “Quero”! Pois é, sem querermos, como Deus quer, vai continuar a haver, neste mundo, excluídos e leprosos de toda a espécie. Para Deus, serão sempre os primeiros; que pena não os queremos com mais força!

Padre Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos um Deus cheio de amor, de bondade e de ternura, que convida todos os homens e todas as mulheres a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Ele não exclui ninguém nem aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos.

  • A primeira leitura apresenta-nos a legislação que definia a forma de tratar com os leprosos. Impressiona como, a partir de uma imagem deturpada de Deus, os homens são capazes de inventar mecanismos de discriminação e de rejeição em nome de Deus.
  • O Evangelho diz-nos que, em Jesus, Deus desce ao encontro dos seus filhos vítimas da rejeição e da exclusão, compadece-Se da sua miséria, estende-lhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do “Reino”. Deus não pactua com a discriminação e denuncia como contrários aos seus projectos todos os mecanismos de opressão dos irmãos.
  • A segunda leitura convida os cristãos a terem como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional aos projectos do Pai e fez da sua vida um dom de amor, ao serviço da libertação dos homens.

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