5º Domingo do Tempo Comum - Ano C
"Eles deixaram tudo e seguiram Jesus.” Lc 5, 11
Nestes anos de crise continuada entraram no nosso vocabulário comum expressões como, “ratings”, “swaps”, “subprime” e muitas outras que o universo económico e financeiro utiliza abundantemente. Vamos entendendo melhor que é difícil ou quase impossível entender os mecanismos financeiros que dominam e sustentam a vida de todos. Ao ver o filme “A queda de Wall Street” de Adam McKay, que relata como quatro homens anteciparam o colapso global da economia dos EUA, ao apostar na crise imobiliária e lucrando com a tragédia de muitos, não é possível ficar indiferente à ganância e à mentira de todo o sistema. Alimentando-se da embriaguez das pessoas em “ter mais” (no caso imobiliário, mais casas, tantas de uma opulência escandalosa!) a “economia” deixa de ser o “bom governo da casa” para se transformar no “cemitério” da maioria dos que querem viver indiferentes ao mundo que os rodeia. E quem vem a pagar os excessos? Aqueles que até têm um nome exemplar: contribuintes! Mas o pior, como alertam as legendas finais, é não se aprender com os erros, recriando novas perspectivas de catástrofe.
Pedro e os outros pescadores conheciam bem o Mar da Galileia. Estavam habituados a fainas infrutíferas. E eram pacientes como são, geralmente, todos os pescadores. Mas aquele Rabi, que lhes entrara pelo barco adentro, e dizia palavras cheias de luz, pedia-lhes para lançar as redes em pleno dia? Pedro explicou como se tinham esforçado toda a noite sem nada apanhar, mas algo naquelas palavras o impeliu a arriscar. E com as redes cheias de peixes, reconheceu a sua pequenez e o seu pecado, pedindo a Jesus que se afaste dele. Mas é precisamente esse reconhecimento que faz com que Jesus não só não se afaste mas o confirme numa nova actividade: “ser pescador de homens”. Quer dizer, assumir a missão de “estender a mão” aos que correm o perigo de afogamento numa vida sem sentido, sem valores, sem “ar” (ou Espírito, que renova e faz viver), sem dignidade nem amor, sem verdade nem paz. A pesca naquele mar era incerta, por vezes, mas o risco dessa nova “pesca” que Pedro e os primeiros discípulos vão assumir parece ainda maior. Seria caso para dizer que o “rating” crescia em termos de risco, e dos A e AAA se poderia passar aos CCC e C ou D (que me perdoem os economistas deste uso tão pouco financeiro destas classificações)!
Claro que não se podem usar estes critérios (que são muito complexos) para “avaliar” o risco da empresa da evangelização. Para já porque a sua força não reside num empenho humano mas na força da palavra de Cristo. O seu objectivo não é um lucro material mas o conhecimento da pessoa de Jesus Cristo e como Ele transforma a existência numa vida em plenitude. A sua estratégia não se rege por especulações nem mentiras, mas pela busca incessante da verdade, e pela alegria transformadora da caridade. Os dividendos são partilhados constantemente; ou melhor, se não colocarmos obstáculos à graça, são oferecidos sem medida. E todos os que embarcam nesta “pescaria”, são corresponsáveis na diversidade das funções, recebendo o mesmo “denário” de vida eterna. Não entendo muito de “ratings”, mas quero ir aprendendo como Pedro, que vale a pena confiar na palavra de Jesus e não deixar de lançar as redes. Que não prendem, mas libertam e salvam quem arrisca deixar-se olhar e amar por Cristo. Fazendo como ele, capaz de reconhecer erros e pecados, para acolher o amor que rompe todos os “ratings”!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo leva-nos a reflectir sobre a nossa vocação: somos todos chamados por Deus e d’Ele recebemos uma missão para o mundo.
- Na primeira leitura, encontramos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. De uma forma simples e questionadora, apresenta-se o modelo de um homem que é sensível aos apelos de Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado.
- No Evangelho, Lucas apresenta um grupo de discípulos que partilharam a barca com Jesus, que acolheram as propostas de Jesus, que souberam reconhecê-l’O como seu “Senhor”, que aceitaram o convite para ser “pescadores de homens” e que deixaram tudo para seguir Jesus… Neste quadro, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer.
- A segunda leitura propõe-nos reflectir sobre a ressurreição: trata-se de uma realidade que deve dar forma à vida do discípulo e levá-lo a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte. Com a sua acção libertadora – que continua a acção de Jesus e que renova os homens e o mundo – o discípulo sabe que está a dar testemunho da ressurreição de Cristo.
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