5º Domingo da Quaresma - Ano A

02-04-2017 09:19

 

 

 

“Jesus chorou. [...] Bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora.»” Jo 11, 35.43

 

 

Não há palavras para a morte. Explicações e justificações não enchem o vazio deixado pela ausência de quem amamos. E as lágrimas são um rosário de gotas que brotam das janelas da alma dos nossos olhos. Não digam que um homem não chora; o próprio Filho de Deus chorou diante de Lázaro morto. Mas que ninguém se afogue em lágrimas, pois até elas lavam os olhos para vermos mais longe.

Que fazer da morte? Revoltarmo-nos? Deprimirmo-nos? O mais comum é fazer por esquecer e seguir para diante. A jornalista Patrícia Reis dizia-o numa entrevista ao Diário de Notícias: “Costumo dizer, e os miúdos às vezes chateavam-se comigo, mas quando há um problema eu digo: vais morrer, não sabes quando, queres mesmo desperdiçar as tuas energias nisso? Há que relativizar as coisas.” O compromisso por uma vida com sentido saboreia-se mesmo nas palavras do poeta Sebastião da Gama: “Que a Morte, quando vier, / não venha matar um morto.... / Quero morrer em pujança.” E se, perante o mistério da morte os dogmas científicos e religiosos são frágeis, há uma humildade comum a crentes e não crentes. Humildade que os cristãos concretizamos em confiança na bondade radical de Deus manifestada em Jesus, na abertura à surpresa feliz da vida eterna, no amor que tem a marca da Páscoa. 

Há palavras para a vida. Na voz de Jesus a ressuscitar Lázaro há a força de um despertar do sono. É a aprendizagem do renascer depois da destruição, um impossível que se torna possível. E isto não se percebe de fora, é preciso entrar dentro de Jesus e, como Marta, responder à sua pergunta: “Acreditas nisto?” Acreditar é participar, é viver ressuscitando, é sonhar o impossível. E quem disse que é fácil acreditar em Jesus? Eis-nos em caminho quaresmal para rever as tentações do ritualismo oco, do dogmatismo sectário, do facilitismo espiritual. Sem nos aflorarem aos olhos as lágrimas nascidas no coração, como a Jesus perante a impotência diante da morte (e das “mortes” a que nos habituamos, num pelo egoísmo e insensibilidade aos outros), como escutaremos a voz que diz: “Sai para fora!”? 

Que fazer da vida? Não terá sido essa a pergunta de Lázaro, espantado pelo regresso à vida? Ir e caminhar com outros, na tarefa quotidiana de libertar do mal e vencer a morte é uma resposta. A confiança em Deus não é uma espera passiva por medo de errar. É um caminho de fidelidade e coragem, em que as lágrimas de amor podem ajudar a ver melhor. A tarefa da ressurreição não é só para a outra vida. É dos túmulos em que tantos se encerram ou aí são colocados que é urgente sair para a vida. Aquela que vai ser, um dia, surpresa de Deus, e a de hoje! Sim, esta aqui e agora, que Jesus abraçou e onde se comoveu até às lágrimas, e não certamente só de dor!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.

  • Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.
  • O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
  • A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.

portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.pt