4º Domingo do Tempo Páscal - Ano C
“As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me.” Jo 10, 27
Quase tudo começa pela escuta. Como na criação, a palavra criou e encheu o vazio do nada com as multiformes expressões de vida. Escutar lembra-me os primeiros nove meses de crescimento no seio materno, e todas as vozes e ruídos que nos chegavam pelas nossas mães. Quando quero escutar, dentro de mim parece que se forma um cálice para recolher palavras e silêncios, melodias e ruídos, numa disponibilidade para o outro, o mundo e até para Deus, que sempre gostou de nos falar! As nossas orelhas ganharam esta forma de parabólicas para melhor captar a melodia íntima das pessoas e das coisas? E lembro-me dessa pequena heroína do escritor Michael Ende, que deu nome a um livro seu: “Momo sabia ouvir de tal modo que pelas cabeças das pessoas passavam ideias muito acertadas. Não porque ela dissesse ou perguntasse algo que levasse os outros a pensar assim, não, limitava-se a estar sentada e a ouvir com toda a atenção e a toda a sua participação. Enquanto assim ficava, observava os outros através dos seus grandes olhos escuros e o atingido sentia fluir ideias que nunca sonhava poder vir a ter.”
A voz de Jesus deve ser espantosa. Mas a certeza de que Ele e o Pai são especialistas em escutar é evidente. Por isso o amor nasce e cresce de uma escuta mútua. Não é assim com os que se amam e desejam tanto contar o que lhes vai na alma, como ouvir o que outro quer dizer? Quando se deixa de ter gosto de contar e ouvir, talvez a fogueira do amor esteja a apagar-se!
Conhecer é um caminho delicado e árduo. A linguagem bíblica fala da intimidade que o conhecer reveste, como um acto de amor. Pois pode amar-se a sabedoria e a verdade com totalidade, como que se ama uma pessoa. E não conhecemos para crescermos juntos e celebrarmos a vida? “Conhece-te a ti mesmo” era a inscrição que estava no templo de Apolo em Delfos, e é sempre interpeladora nesta aventura do conhecimento que nenhum pode descurar. Como vemos nos pais e educadores quando se ocupam (mais do que “preocupam”!) com a saúde mental e emocional de filhos e educandos, em vez de querer fazê-los “reizinhos e ditadores”, ou “supra-sumo” de qualquer coisa!
Quando Jesus diz que nos “conhece”, quanto encanto e ternura podemos entender desse conhecimento? E como não lembrar o desejo de S. Paulo na 1ª Carta aos Coríntios, no final do “hino da caridade” quando diz: “Agora conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido.” Que tristeza quando se desiste de querer conhecer a si próprio, os outros, Deus, “o infinito e mais além” como dizia o Buzz Lightyear dos filmes “Toy Story”.
Não há seguimento sem escuta e sem vontade de conhecer. Assim na fé e assim no amor. Quando deixamos de escutar Jesus, nos murmúrios do Espírito Santo e na voz dos pobres e dos simples, navegamos sem norte. Quando pensamos já conhecer tudo, dos outros e até de Deus, começamos a ficar duros de coração. Sem norte e duros de coração é melhor ver com quem estamos a ir, ou se estamos a ficar!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
O 4º Domingo do Tempo Pascal é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a liturgia propõe um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como Bom Pastor. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus hoje nos propõe.
- O Evangelho apresenta Cristo como o Bom Pastor, cuja missão é trazer a vida plena às ovelhas do seu rebanho; as ovelhas, por sua vez, são convidadas a escutar o Pastor, a acolher a sua proposta e a segui-l’O. É dessa forma que encontrarão a vida em plenitude.
- A primeira leitura propõe-nos duas atitudes diferentes diante da proposta que o Pastor (Cristo) nos apresenta. De um lado, estão essas “ovelhas” cheias de auto-suficiência, satisfeitas e comodamente instaladas nas suas certezas; de outro, estão outras ovelhas, permanentemente atentas à voz do Pastor, que estão dispostas a arriscar segui-l’O até às pastagens da vida abundante. É esta última atitude que nos é proposta.
- A segunda leitura apresenta a meta final do rebanho que seguiu Jesus, o Bom Pastor: a vida total, de felicidade sem fim.
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