4º Domingo da Quaresma - Ano C

10-03-2013 09:05

 

Este teu irmão estava morto e voltou à vida,estava perdido e foi reencontrado.” Lc 15, 32

 

É difícil ser irmão

 

Sendo Jesus o rosto do Pai e falando-nos tantas vezes do amor do Pai (e esta parábola, que São Lucas nos oferece em exclusivo, tem uma força espantosa para quem se dispõe a escutá-la!) Ele apresenta-se-nos fundamentalmente como irmão. E se nos faz participantes da sua filiação com a Páscoa, é verdade que nos dá uns aos outros como irmãos e até o mandamento do amor apresenta o seu amor por nós como termo de comparação. Creio que essa é ainda a aprendizagem mais difícil que nos é proposta fazermos: é bom saber que o Pai nos ama, mas são uma “chatice” estes irmãos que Ele pôs à nossa volta para amarmos!

No fundo a sociedade revê-se mais na figura do “pai”, seja ele um chefe, um rei, um presidente, um ditador ou um patrão, uma “troika” ou até um papa, do que se empenha na construção de relações fraternas. Um “pai” pode ou não fazer as vontades dos filhos, pode ou não distribuir recompensas ou atribuir castigos, podemos alimentar a pedinchice e a adulação. Dá jeito lembrá-lo nas dificuldades e tanto faz esquecê-lo quando tudo corre bem. Mas com os irmãos as relações são diferentes: estamos ao mesmo nível, somos diferentes e complementares, precisamos uns dos outros para crescer, não adiantam jogos de fingimento nem rasteiras baixas. Ficamos todos a perder. Sem uma lógica de fraternidade a exploração e espezinhamento do outro, a desreponsabilização pela promoção da justiça e do maior bem para todos, o luxo indiferente à miséria, a corresponsabilização pelo que diz respeito a todos continuarão a triunfar. Ainda que saibamos que temos um Pai e até nos sentemos nos mesmos bancos de igreja. Dá tão pouco jeito dar a paz a certas pessoas que se sentam ao pé de nós!  

O Pai da parábola de hoje mexe profundamente connosco. Está sempre em movimento pelos filhos. Integra o seu passado e faz tudo para os salvar. Mas percebemos que a festa só é completa se os irmãos se encontrarem e derem o abraço que esperamos. No fundo trazemos dentro de nós os dois irmãos: o valdevinos capaz de se converter, e o cumpridor chamado a saborear a graça que tem vivido como fardo. O Pai torna-se agora naquele que pede: pede que os seus filhos sejam irmãos. Que os bens não atrapalhem, que o perdão possa correr, que a passagem da morte à vida seja a maior festa. Jesus veio dizer-nos isto mesmo há dois mil anos. Que o Pai pede que nos amemos. E há dois mil anos que desbaratamos a herança ou a aferrolhamos como posse exclusiva, que excluimos quem falha ou queremos uma festa só nossa. Grande trabalho tem o Pai! Porque será tão difícil sermos irmãos?

 P. Vítor Gonçalves

 in Voz da Verdade 10.03.2013 

 

 

A liturgia de hoje convida-nos à descoberta do Deus do amor, empenhado em conduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele.

  • O Evangelho apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça dos homens.
  • A segunda leitura convida-nos a acolher a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo.
  • A primeira leitura, a propósito da circuncisão dos israelitas, convida-nos à conversão, princípio de vida nova na terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado é um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.

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