34º Domingo do Tempo Comum - Ano A - Solenidade do Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
"Tive fome e deste-me de comer.” Mt 25
Só estive uma vez num tribunal e, mesmo como testemunha de defesa, tudo aquilo me impressionou bastante. Tão nervoso fiquei que estendi a mão ao juíz e aos que se encontravam perto, só parando quando os seus rostos surpreendidos me fizeram pensar que não devia ser esse o procedimento normal. Deve haver muitas pessoas habituadíssimas a esses espaços mas prefiro continuar a vê-los nos filmes! Por isso a solenidade da parábola do juízo final que o evangelista S. Mateus conta lembra-me a gravidade da vida pesada e julgada e a surpresa de uma sentença que é mais aviso para quem ouve o relato! Estamos todos ali representados: uma humanidade de todas as raças, línguas, culturas e religiões. Prontos a escutar uma palavra decisiva sobre o passado que vai abrir um futuro. Uma palavra que Jesus vais dizer e que irá revelar o sentido de tudo. E qual não é a surpresa, que os chamados a receber como herança o reino, são os que se aproximaram dos necessitados e fizeram por eles tudo o que puderam! Os que não os viram e não ouviram (ou não quiseram ver e ouvir), os que se afastaram, são agora afastados!
É um relato decisivo que obriga a rever os muitos critérios da nossa realização e felicidade. Jesus não usa conceitos universais como “justiça”, “solidariedade” ou “bondade”. Nem mesmo fala de amor, palavra que irá encher páginas e páginas de discursos e livros, que irá estar presente nos diálogos mais poéticos e profundos, que irá mover o mundo de muitas formas. Jesus fala de comida, de roupa, de um teto, de doença e prisão. Concretiza a proximidade em gestos simples, directos, sem aprovações ou burocracias de estruturas: dar de comer, de beber, vestir, acolher, visitar, cuidar. Cuidar dos que sofrem é a razão da sua vinda a este mundo. Como fariam sentido tantos milagres de Jesus senão pelo desejo de Deus em curar, perdoar, libertar, salvar? A vida como Deus a quer implica o esforço em libertar as pessoas do sofrimento. Em procurar e arrancar as raízes de tudo o que prolonga o sofrimento no tempo, principalmente o sofrimento que a indiferença, a ganância, a preguiça, a violência geram. Desejando que o pensar seja princípio para o agir lembro as palavras do poeta José Gomes Ferreira: “Para além do “ser ou não ser” dos problemas ocos, / O que importa é isto: / - Penso nos outros. / Logo existo.”
A grande surpresa será, fundamentalmente, surpresa! Porque Deus nos conhece (e ama) infinitamente melhor do que nós próprios. E não está preso aos preconceitos e demais “complicações” interiores que nos povoam a mente e o coração. Mas a indicação desta parábola é clara: o que fazemos pelos outros é decisivo. Uma humanidade melhor (e certamente mais feliz) não se faz à custa de um bem estar que exclui muitos, de um esbanjamento que escandaliza, de um fechar os olhos a quem nos rodeia. Que tal surpreendermo-nos a nós próprios e concretizar em gestos o que defendemos em teoria? Isso era uma surpresa antecipada!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. As leituras deste domingo falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir.
- A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
- O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o “rei” Jesus a interpelar os seus discípulo acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
- Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e actuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28).
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