33º Domingo do Tempo Comum - Ano A

19-11-2017 09:25

 

“Tive medo e escondi o teu talento na terra.” Mt 25, 25

 

 

Conta-me um amigo, bancário de profissão, que esta parábola dos talentos é a preferida dos bancários e gerentes de conta. Pois é o próprio Jesus que diz a um dos servos, quando ele devolve ao senhor o talento recebido, que mais valia tê-lo depositado no banco, onde teria ganho juros! É claro que Jesus não está a elogiar nenhum sistema bancário, e certamente não vê com bons olhos o uso e abuso que é feito do dinheiro, quando se lhe vende a alma e se endeusa o seu poder. E se o talento correspondia a uma unidade de peso, que em ouro equivaleria a 6000 denários, podemos imaginar a grandeza do que foi confiado aos servos: o terceiro servo recebeu o equivalente a vinte anos de trabalho!

Foi o humanista Erasmo de Roterdão (1467-1536) que, tomando por base esta página do evangelho, deu um sentido novo a estes “talentos”, identificando-os com os “dons” e “capacidades” que caracterizam os seres humanos. E por isso reconhecemos e procuramos identificar as qualidades naturais que cada um pode desenvolver. Encontramos pessoas com muitos talentos e outras com poucos, umas que os desenvolvem e outras não. É verdade que, na parábola, mais do que méritos ou qualidades, aquilo que o senhor dá é a graça de Deus, é a abundância do seu amor. E se é dada em quantidades diferentes, aquilo que empobrece verdadeiramente é não a ter usado, não a ter investido, e por medo tê-la escondido. De algum modo é esse o dinamismo dos bens e dos tesouros: aquilo que se guarda empobrece-nos e aquilo que se partilha e arrisca, é que nos faz ricos! O maior vazio é o de quem só tem (coisas, dinheiro, poder…) e deixa de fazer o maior bem possível com os bens. Inacreditavelmente, julga-se dono e é escravo, vive no medo de os perder, tem as mãos vazias porque nada é capaz de dar!

O medo de arriscar é o maior obstáculo à multiplicação dos talentos. Não se trata aqui do arriscar ganancioso e egoísta, do lucro fácil e a qualquer preço, mas da coragem de acreditar na força multiplicadora da graça de Deus. Se Jesus é o maior tesouro e a vida da graça nos dá os melhores talentos, escondê-los, procurar seguranças, conservá-los ou congelá-los em rotinas vazias e vidas resignadas, é a nossa desgraça. É preciso ter cuidado com a prudência que é preguiça mascarada, com a resignação que é falta de confiança no Espírito, com a fidelidade ao passado que pode ser desistência da esperança.

Escutar esta parábola no 1º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco, leva-nos a acolher as sua palavras: “somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma” (Mensagem n.3). E não será também ocasião para redescobrir os dons e talentos que, também os pobres, com a nossa ajuda, precisam desenvolver?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum recorda a cada cristão a grave responsabilidade de ser, no tempo histórico em que vivemos, testemunha consciente, activa e comprometida desse projecto de salvação/libertação que Deus Pai tem para os homens.

  • O Evangelho apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a última vinda de Jesus. Louva o discípulo que se empenha em fazer frutificar os “bens” que Deus lhe confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na apatia e não põe a render os “bens” que Deus lhe entrega (dessa forma, ele está a desperdiçar os dons de Deus e a privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito).
  • Na segunda leitura, Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projectos, empenhando-se activamente na construção do Reino.
  • A primeira leitura apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que asseguram a felicidade, o êxito, a realização. O “sábio” autor do texto propõe, sobretudo, os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do “temor de Deus”. Não são só valores da mulher virtuosa: são valores de que deve revestir-se o discípulo que quer viver na fidelidade aos projectos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou.

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