30º Domingo do Tempo Comum - Ano A
"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração.
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Mt 22, 37.39
Há um diálogo no musical “Um violino no telhado”, entre um casal judeu a propósito das suas filhas porem em causa a tradição dos casamentos, que os leva a descobrir, passados 25 anos, que se amam. Nunca é tarde para descobrir que os gestos simples de cada dia, a fidelidade nos bons e nos maus momentos, são o amor em acto; que podíamos dizer mais frequentemente, mas o importante viver constantemente. De facto, o amor como palavra e como ideia pode ser bonita, contudo, ele só existe como verbo, feito dádiva e entrega, corpo e alma que sai de quem ama para quem é amado. Como dizia Pedro Casaldáliga, o bispo brasileiro recentemente falecido “No final do caminho perguntar-me-ão: “Viveste?”, “Amaste?”… E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes…”.
Não encontraremos no mais fundo de cada pessoa infeliz a falta de sentir-se amado e de amar? E se a primeira experiência nos unifica e fortalece, ela não depende substancialmente de nós. É dom daqueles que nos rodeiam, do nascer ao morrer, de muitas circunstâncias que não dominamos. Mas quanto a amar, essa é uma escolha que depende de cada um, por vezes natural como respirar, ou encantarmo-nos com a beleza que nos rodeia, mas por vezes a exigir escolhas difíceis e comprometedoras. Pode educar-se para amar? Sim, e não será esse o maior objectivo da educação? E quem não é amado não é capaz de amar? Não; porque o amor é semeado no íntimo de todos. É mesmo o maior dom que é oferecido a todos, capaz de se multiplicar sempre que o damos a outros.
Jesus ao unir o amor a Deus ao amor ao próximo, sintetizando a extensa lista de mandamentos e preceitos judaicos, ainda hoje nos interpela. Amar o próximo que vemos é o modo de amar Deus que não vemos. É aprender com o próprio Jesus que deu cada instante da sua vida ao Pai e aos irmãos, até no-la dar totalmente na cruz. Como Ele não podemos ficar numa atitude de indiferença, despreocupação ou esquecimento dos outros. Diante de qualquer pessoa a atitude fundamental é amá-la. O amor do próximo é um apelo, uma necessidade, uma urgência. Sem perder tempo em estabelecer uma “lista de próximos”, como nos desafia o “bom samaritano”; antes, criando disponibilidade para “os mais pequeninos” com quem Jesus se identifica.
Mais do que um “slogan”, o amor é um projecto. É o maior projecto de Deus, que é a fonte do Amor. Aprovado na generalidade e na especialidade, com todos os meios para se erguer em cada dia e em cada situação. Basta que nos demos a ele. E recordo outra imagem cinéfila: o discurso de Charlie Chaplin no final do filme “O Grande Ditador”. Sem nunca falar de amor, concretiza-o repetidamente:“Todos nos queremos ajudar uns aos outros. O ser humano é assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo — não para seu sofrimento.[…] Mais do que de inteligência, precisamos de gentileza e bondade.[…]Você tem o amor da humanidade no coração.”
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 30º domingo Comum diz-nos, de forma clara e inquestionável, que o amor está no centro da experiência cristã. O que Deus pede - ou antes, o que Deus exige - a cada crente é que deixe o seu coração ser submergido pelo amor.
O Evangelho diz-nos, de forma clara e inquestionável, que toda a revelação de Deus se resume no amor - amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois mandamentos não podem separar-se: "amar a Deus" é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida. Tudo o resto é explicação, desenvolvimento, aplicação à vida prática dessas duas coordenadas fundamentais da vida cristã.
A primeira leitura garante-nos que Deus não aceita a perpetuação de situações intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de desrespeito pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres e dos mais débeis. A título de exemplo, a leitura fala da situação dos estrangeiros, dos órfãos, das viúvas e dos pobres vítimas da especulação dos usurários: qualquer injustiça ou arbitrariedade praticada contra um irmão mais pobre ou mais débil é um crime grave contra Deus, que nos afasta da comunhão com Deus e nos coloca fora da órbita da Aliança.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã (da cidade grega de Tessalónica) que, apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a percorrer, com Cristo e com Paulo, o caminho do amor e do dom da vida; e esse percurso - cumprido na alegria e na dor - tornou-se semente de fé e de amor, que deu frutos em outras comunidades cristãs do mundo grego. Dessa experiência comum, nasceu uma imensa família de irmãos, unida à volta do Evangelho e espalhada por todo o mundo grego.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
portugal@dehoninos.org - www.dehonianos.pt
Pe. Vitor Gonçalves
Rádio Renascença