3º Domingo do Tempo Comum - Ano C

24-01-2016 09:13

 

 

"Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir.” 

Lc 4, 21

 

 

Contabilizar o número de pessoas que emigram, ou, dolorosamente, fogem da miséria e da guerra em busca de uma vida digna longe das suas origens não é tarefa fácil. Milhares? Milhões? Ao sabor das ondas noticiosas são lembradas de vez em quando. Não introduzo este tema por ter soluções mágicas, mas porque as origens, a “terra” em que nascemos e crescemos tem sempre alguma importância. É verdade que o P. António Vieira dizia que um português tinha “para nascer, Portugal; para morrer, o mundo inteiro”! Criamos raízes e fazemos casa em qualquer lugar onde possamos amar e ser amados. Mas esqueceremos algum dia (pelas melhores ou piores razões) a casa e a terra das nossas origens?

É importante guardar do passado aquilo que nos permite avançar. Saudosismos ou “idades de ouro” perdidas não alimentam a esperança, e são sinais de envelhecimento precoce. Mas há valores e bons hábitos que se ganham de pequenino, simples e profundos alicerces que nos consolidam, memórias que nos projectam para um viver mais pleno. Quem é pai ou mãe, quem assume a vocação de educador, entende a importância de tudo o que se diz e faz nos primeiros anos de uma criança. São como fontes que não se esgotam.

Também Jesus voltou a Nazaré onde cresceu. Como tantas outras vezes, na sinagoga, levantou-se para ler. E o texto de Isaías ganhou uma actualidade premente: “cumpriu-se hoje mesmo” a libertação e o anúncio de uma vida nova. O futuro é já hoje, e adiar o amor e a graça para um tempo ideal é perder tempo e vida. Jesus não apresentou manifesto eleitoral, nem esperou aclamação popular: o que disse tornou-se acção, a sua presença concretiza aquilo que é dito, palavra e acto estão unidas. Como gostaríamos também nós dessa “inteireza” na nossa vida, de aquilo que dizemos não estar tão distante do que fazemos!

Comecei pelas origens e vim parar ao “hoje” porque creio que a unidade dos cristãos acontece nessa tensão entre o passado e o presente. É preciso sempre voltar às fontes: a Jesus Cristo, ao seu desejo de que “sejam um como nós somos um ”(Jo 17, 22), ao amor à Palavra de Deus, ao perdão pelos ódios e excomunhões da história, às razões (ou falta delas) das separações. E assumir o hoje: a riqueza da diversidade, o diálogo e escuta mútuos, a oração e o compromisso pela justiça, a verdade que “não é minha nem tua, para que possa ser tua e minha” (S. Agostinho) ou, como dizia o teólogo H. Urs von Balthasar, “a verdade é sinfónica”. Como na vida de cada um, crescemos quando esta tensão impregna tudo aquilo que fazemos. O “hoje”, em que a libertação e a misericórdia passam de palavras bonitas a gestos criativos é desejo de Deus, e podem tornar-se possíveis connosco e em nós. Ou será que continuamos a preferir deixar para amanhã?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a Palavra de Deus: ela é, verdadeiramente, o centro à volta do qual se constrói a experiência cristã. Essa Palavra não é uma doutrina abstracta, para deleite dos intelectuais; mas é, primordialmente, um anúncio libertador que Deus dirige a todos os homens e que incarna em Jesus e nos cristãos.

  • Na primeira leitura, exemplifica-se como a Palavra deve estar no centro da vida comunitária e como ela, uma vez proclamada, é geradora de alegria e de festa.
  • No Evangelho, apresenta-se Cristo como a Palavra que se faz pessoa no meio dos homens, a fim de levar a libertação e a esperança às vítimas da opressão, do sofrimento e da miséria. Sugere-se, também, que a comunidade de Jesus é a comunidade que anuncia ao mundo essa Palavra libertadora.
  • A segunda leitura apresenta a comunidade gerada e alimentada pela Palavra libertadora de Deus: é uma família de irmãos, onde os dons de Deus são repartidos e postos ao serviço do bem comum, numa verdadeira comunhão e solidariedade.

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