3º Domingo de Páscoa - Ano B
"A paz esteja convosco.” Lc 24,36
Consta em alguns meios que a próxima encíclica do Papa Francisco será sobre a ecologia e o desenvolvimento sustentável. E foi disso que me lembrei ao ver a exposição “Génesis” do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que estará por Lisboa até 2 de Agosto, desejando intimamente que o Papa Francisco pudesse ver também a beleza daquelas imagens. Se é verdade que a procura de lugares “que conseguiram escapar das transformações impostas pelo mundo contemporâneo” parece evidenciar o ser humano num papel destrutivo, é certo que pressentimos uma responsabilidade em preservar a beleza e a majestade deste frágil planeta. A obra começada no primeiro dia da criação foi confiada ao ser humano como imagem e semelhança de Deus. E, por isso, como um primeiro sinal pascal, fruto do primeiro dia em que Jesus ressuscitado venceu a morte, não se pode anunciar e viver a alegria da Páscoa sem o renovado cuidado pela criação!
Porque é um princípio que não tem mais fim, Jesus ao aparecer vivo junto dos discípulos atrapalha-os profundamente. Não sabem o que pensar, o que dizer, se hão de ter medo ou romper em gritos de alegria. A palavra de Jesus é um convite à paz. Não a paz feita de acordos impostos aos vencidos, mas aquela que permite sempre começar de novo, renascer, ver e saborear como se fosse a primeira vez. É a paz que ensina a ler a história e a aprender com ela, a integrar os processos de sofrimento e paixão, e a abrir o coração à vida como ela é, sonhando o que é chamada a ser. Na contemplação da natureza que o olhar de Sebastião Salgado nos oferece não vemos um mundo “delicodoce” mas uma escultura do tempo que marca as montanhas, os glaciares, os animais e os rostos humanos. Na sobrevivência e na festa, estamos perante um mundo pleno de vida, uma vida que importa cuidar e ver com os olhos de ressuscitados.
A ressurreição de Jesus é também ressurreição da criação. Sem cair num panteísmo ou na exaltação do primitivismo e do selvagem, a responsabilidade confiada à humanidade no Génesis (primeiro livro da Bíblia) amplia-se com a Boa Nova de Jesus. Ao oferecer a salvação em Jesus, o Pai confirma-nos na comum missão de cuidar das questões relativas aos recursos naturais e ao alimento para todos, ao respeito pela diversidade da natureza, e ao bem comum da família humana. A beleza, a bondade e a verdade da criação são a base sustentável para uma existência humana mais digna e mais fraterna, que é a consequência da ressurreição de Jesus. Quem poderá esquecer S. Francisco de Assis quando nos convida a dizer: “Louvado seja Deus na natureza, / Mãe gloriosa e bela da Beleza, E com todas as suas criaturas…”!
Como anunciar a vida plena que Jesus oferece ao ressuscitar dos mortos, sem cuidarmos desta vida frágil que é confiada a todos e da qual todos somos responsáveis?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como é que podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como é que podemos mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a salvação? É, fundamentalmente, a estas questões que a liturgia do 3° Domingo da Páscoa procura responder.
- O Evangelho assegura-nos que Jesus está vivo e continua a ser o centro à volta do qual se constrói a comunidade dos discípulos. É precisamente nesse contexto eclesial - no encontro comunitário, no diálogo com os irmãos que partilham a mesma fé, na escuta comunitária da Palavra de Deus, no amor partilhado em gestos de fraternidade e de serviço - que os discípulos podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Depois desse "encontro", os discípulos são convidados a dar testemunho de Jesus diante dos outros homens e mulheres.
- A primeira leitura apresenta-nos, precisamente, o testemunho dos discípulos sobre Jesus. Depois de terem mostrado, em gestos concretos, que Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a salvação, Pedro e João convidam os seus interlocutores a acolherem a proposta de vida que Jesus lhes faz.
- A segunda leitura lembra que o cristão, depois de encontrar Jesus e de aceitar a vida que Ele oferece, tem de viver de forma coerente com o compromisso que assumiu D Essa coerência deve manifestar-se no reconhecimento da debilidade e da fragilidade que fazem parte da realidade humana e num esforço de fidelidade aos mandamentos de Deus.
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