3º Domingo da Quaresma - Ano A
“Disse-lhe Jesus: «Dá-Me de beber».” Jo 4, 7
Damos tão pouco valor à água! Esquecemos facilmente o privilégio de abrir em casa uma torneira e ter água potável e abundante. Isso é inacessível ainda a milhões de pessoas, sendo causa direta da morte de 361 mil crianças por ano. Poços e fontes ainda estão na memória de muitos, e até na minha que muitas vezes bebi a água do chafariz do Largo da Eira. A água, bem comum e partilhado, é condição para a vida, e buscam-na incessantemente, em planetas distantes, os cientistas do espaço. Símbolo de tantas outras sedes que nem poços, nem fontes, conseguem saciar.
O poço-fonte de Jacob é hoje localizado no mosteiro ortodoxo de Bir Ya'qubl, na cidade de Nablus, na Cisjordânia. Assinalando o encontro de Jesus com a samaritana, lembra-nos como a simbologia do poço-fonte evoca também encontros nupciais em várias passagens da Bíblia. Não era comum ser junto à fonte que muitas vezes nasciam namoros e até casamentos? No diálogo com a samaritana, nas várias sedes e nas águas a receber e a dar, também saboreamos toda a envolvência do amor nupcial de Deus à humanidade que aquela mulher representa.
Não era necessário passar pela Samaria para ir da Judeia à Galileia. Seria até o caminho mais difícil e perigoso, mas Jesus não veio “passear” ao mundo, e sim encontrar-se connosco, nas periferias e desertos que vivemos. Não se vai à fonte ao meio-dia, à hora do sol a pique em que o calor é maior, a não ser que não se queira encontrar quem olha de soslaio ou insulta, como aquela mulher tão bem conhecia. São diferentes a sede da mulher e a de Jesus, e no fundo, são tão iguais. Jesus começa por pedir “água” que a mulher vinha buscar; mas o que deseja é dar “água viva” que a mulher acaba por pedir. A sede de Deus por nós sacia a nossa sede d’Ele. Esta sede humana que é também de verdade, de sermos amados mais do que podemos imaginar e perdoados mais do que julgaríamos possível. A verdade dos amores imperfeitos da samaritana não é obstáculo ao amor transformador que Jesus lhe oferece. E será com a fragilidade do seu testemunho, mas com o transbordar de alegria do coração, que ela irá interpelar aqueles que evitava, a virem também conhecer Jesus.
Ter sede de Deus leva-nos ao encontro. Felizes são os “que têm fome e sede de justiça” (Mt 5, 6) tinha Jesus dito na montanha das bem-aventuranças. Pois o perigo maior é a saciedade, o “estar farto” em que, também nós cristãos, podemos cair. Deixamos de ter sede da “água viva” que faz transbordar o coração e leva ao encontro de outros sedentos. É fácil acomodarmo-nos a riquezas de ouro e poder, de “pechisbeque” religioso e devocional, de ostentação não evangélica. Podemos esquecer a humildade de ter sede de Deus e da felicidade dos outros, e disfarçá-la com “bebidas” que parecem saciar. Que sede vai guiando os nossos passos?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.
- A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.
- A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.
- O Evangelho também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.
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