27º Domingo do Tempo Comum - Ano B

04-10-2015 08:58

 

Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele.” Mc 10, 15

 

 

Muitos olhares, ouvidos e expectativas convergirão para o Sínodo dos Bispos sobre a missão da família na Igreja e no mundo, que se inicia, neste Domingo, em Roma. Também convergiram para Jesus, no Evangelho de Marcos deste Domingo, os rostos atentos dos que lhe perguntaram sobre a possibilidade de um homem repudiar a sua mulher. E depois de sublinhar a dureza de coração que gerou o facilitismo de Moisés, claramente favorável aos homens, Jesus sublinhou o essencial: o amor é dom e compromisso, e Deus é a sua fonte inesgotável. 

Muito se escreveu e escreverá sobre a união do homem e da mulher, sobre o matrimónio e a vida familiar, sobre a indissolubilidade e as feridas de uniões fracassadas. Mas as razões (ou a falta delas) daquilo que une e desune um casal são tantas como é a realidade de cada relação, o seu passado e o seu futuro. Do encantamento inicial à fidelidade que é "o amor ao longo do tempo" a aprendizagem de dois "serem um só" é fruto de tantos factores que só a humildade os pode alicerçar. Jesus, mais do que procurar respostas para os sofrimentos do casamento, aponta o ideal que o deve sustentar: a união esponsal não é mágica nem imune ao sofrimento, e, contudo, querida por Deus, é uma vocação sublime e maravilhosa. Assente na alegria de um dom recíproco, participa da acção criadora de Deus, mas, como tudo o que é essencial, só cresce se for verdadeira, e corrompe-se quando não é alimentada. Como acolher e valorizar aqueles que só realizam este ideal numa segunda união? Viverão, aos olhos de Deus, um "amor de segunda qualidade"?

Mais do que decisões "revolucionárias" pergunto-me como irá propor o Sínodo da Família o amor e a misericórdia na vocação matrimonial e familiar a que Deus chama. A santidade proposta por Jesus deixou de atrair a humanidade, simplesmente porque Ele derramou o perdão e abriu caminhos de futuro a quem era "imperdoável" e vivia como excomungado? Será a santidade ainda um "triunfo individual" para quem não se "corrompeu" com as fragilidades do mundo, ou uma graça "comunitária" para quem muito "é perdoado, porque muito amou"? A verdade que liberta tem muito mais a ver com a realidade que precisa de ser salva, do que com o ideal (felicidade para quem o vive e o testemunha) que é preciso oferecer a todos.

Como viveremos o amor-misericórdia do ano jubilar que se aproxima? Acolhendo e abraçando-o como uma criança, não será?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

As leituras do 27º Domingo do Tempo Comum apresentam, como tema principal, o projecto ideal de Deus para o homem e para a mulher: formar uma comunidade de amor, estável e indissolúvel, que os ajude mutuamente a realizarem-se e a serem felizes. Esse amor, feito doação e entrega, será para o mundo um reflexo do amor de Deus.

  • A primeira leitura diz-nos que Deus criou o homem e a mulher para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão “uma só carne”. Ser “uma só carne” implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo.
  • No Evangelho, Jesus, confrontado com a Lei judaica do divórcio, reafirma o projecto ideal de Deus para o homem e para a mulher: eles foram chamados a formar uma comunidade estável e indissolúvel de amor, de partilha e de doação. A separação não está prevista no projecto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projecto primordial de Deus para o homem e para a mulher.
  • A segunda leitura lembra-nos a “qualidade” do amor de Deus pelos homens… Deus amou de tal forma os homens que enviou ao mundo o seu Filho único “em proveito de todos”. Jesus, o Filho, solidarizou-Se com os homens, partilhou a debilidade dos homens e, cumprindo o projecto do Pai, aceitou morrer na cruz para dizer aos homens que a vida verdadeira está no amor que se dá até às últimas consequências. Ligando o texto da Carta aos Hebreus com o tema principal da liturgia deste domingo, podemos dizer que o casal cristão deve testemunhar, com a sua doação sem limites e com a sua entrega total, o amor de Deus pela humanidade.

portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org