27º Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro;
matemo-lo e ficaremos com a sua herança’.” Mt 21, 38
Não há parábola mais dura de Jesus contra os chefes e dirigentes de Israel do que a dos “vinhateiros homicidas”. A ânsia de possuir, a vinha…, o povo…, o mundo…, cega aqueles que eram arrendatários. Até chegar à própria morte do herdeiro. E a parábola ganha asas para a realidade de todos os tempos em que a humanidade tenta “desapossar” Deus e proclamar-se “senhor do universo”. O que nos faz tão gananciosos e desejosos de possuir quando somos tão frágeis e voltamos nus ao seio da terra? Porque nos custa descobrir a alegria da partilha dos frutos por todos e saborear juntos aquilo que se guardamos apodrece e enferruja (até o próprio coração)?
Neste sábado e domingo em Assis, no lugar do túmulo do santo que reconheceu a fraternidade do mundo nas criaturas amadas por Deus, e a quem o Papa Francisco “roubou” o nome para o seu pontificado, vai iniciar-se uma nova etapa da sua vida. Ali ele nos oferecerá a sua terceira encíclica de que já conhecemos o título (“Fratelli tutti” -Todos irmãos) e traduzirá, certamente, uma síntese dos próximos desafios para a Igreja e o mundo que a pandemia veio também revelar.
Mesmo com a expectativa da encíclica, penso que é importante não esquecermos o outro apelo do Papa Francisco a reler e concretizar os apelos da “Laudato si’”, sobre o cuidado da casa comum, agora que passam cinco anos do seu aparecimento. Como “o vinho que ganha sabor com o tempo”, e em situação de fragilidade mundial pela pandemia, muitas das suas propostas se tornam essenciais para que “esta vinha”, que é o mundo, não se torne túmulo em vez de paraíso.
E a parábola de hoje é bom contexto para a sua releitura. Há orientações comuns: um mundo que nos é confiado; uma produção abundante que é para todos; um reconhecimento de que ser administradores implica responsabilidades de respeito e cuidado com todas as criaturas; a descoberta que as raízes do mal nascem da ânsia de poder de alguns; que esse mal vai até à morte dos que denunciam e propõem mudanças; que a morte do filho é a destruição dos pobres, da vida não nascida, dos deficientes, da vida no seu ocaso. Triste humanidade seremos se não mudamos mentalidades e acções. Como, de momento, não há outra “que produza os seus frutos”, a quem Deus pode entregar a sua vinha?
Para este 5.º aniversário da “Laudato si’” propõe-nos o Papa Francisco uma oração. Partilho algumas linhas: “[…]Ajuda-nos a sermos conscientes / de que a nossa casa comum não nos pertence só a nós / mas a todas as gerações futuras, / e que é responsabilidade nossa preservá-la. / Faz que possamos ajudar cada pessoa a ter / o alimento e os recursos de que precisa. / Faz-te presente para os necessitados nestes tempos difíceis, / especialmente para os mais pobres e vulneráveis. / Transforma em esperança o nosso medo, / a nossa ansiedade e os sentimentos de solidão, / para podermos experimentar uma verdadeira conversão do coração. […]”. Se ela pudesse concretizar-se em cada um de nós…!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 27º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem da "vinha de Deus" para falar desse Povo que aceita o desafio do amor de Deus e que se coloca ao serviço de Deus. Desse Povo, Deus exige frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e de misericórdia.
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Na primeira leitura, o profeta Isaías dá conta do amor e da solicitude de Deus pela sua "vinha". Esse amor e essa solicitude não podem, no entanto, ter como contrapartida frutos de egoísmo e de injustiça... O Povo de Jahwéh tem de deixar-se transformar pelo amor sempre fiel de Deus e produzir os frutos bons que Deus aprecia - a justiça, o direito, o respeito pelos mandamentos, a fidelidade à Aliança.
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No Evangelho, Jesus retoma a imagem da "vinha". Critica fortemente os líderes judaicos que se apropriaram em benefício próprio da "vinha de Deus" e que se recusaram sempre a oferecer a Deus os frutos que Lhe eram devidos. Jesus anuncia que a "vinha" vai ser-lhes retirada e vai ser confiada a trabalhadores que produzam e que entreguem a Deus os frutos que Ele espera.
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Na segunda leitura, Paulo exorta os cristãos da cidade grega de Filipos - e todos os que fazem parte da "vinha de Deus" - a viverem na alegria e na serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, justo e digno. São esses os frutos que Deus espera da sua "vinha".
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Pe. Vitor Gonçalves
Rádio Renascença