26º Domingo do Tempo Comum - Ano B
"Nós vimos um homem a expulsar demónios em teu nome e procurámos impedir-lho (...)” Mc 9, 38
As ideias de “grupo eleito”, de “amigos do Messias”, de “únicos administradores das graças de Deus” também tomaram conta do espírito dos apóstolos. Como podiam permitir que um estranho que “não andava com eles” pudesse fazer milagres, (e, portanto, libertar e curar quem sofria), ainda que o fizesse em nome de Jesus? Têm tão pouca compaixão e nenhuma alegria pelos que eram curados! E isso embate com o Espírito de Jesus: o mais importante é a salvação de cada pessoa, e não a organização sectária que anseia, sobretudo, o prestígio e a exclusividade.
A propósito do lançamento do livro “Quando a mente adoece”, do psiquiatra Pedro Afonso, o jornal Público publicava um artigo com algumas das suas ideias. Ao terminar, sublinhando os limites da psiquiatria, revela (a meu ver) uma sintonia com o pensamento de Jesus. Diz o artigo: “Se nota que já há sacerdotes mais sensibilizados para as questões da saúde mental e que do confessionário encaminham para o psiquiatra, também há questões ‘existenciais’ que pertencem mais ao mundo da religião e da filosofia do que à medicina, porque é muitas vezes ‘de ajuda espiritual e não psíquica que as pessoas andam à procura’ ”. O serviço de libertar o ser humano de tudo aquilo que o destrói e impede o seu crescimento tem de ser o que move quem quer que se dispõe a ajudar os outros. E o realismo das situações e das competências exige um trabalho comum e complementar, em que Jesus aponta um critério: “quem não é contra nós, é por nós”.
Se o evangelho prossegue com uma série de advertências de Jesus, relativas ao “escândalo dos pequeninos” e à necessidade de “cortar a mão, o pé, ou deitar fora o olho”, se forem ocasião de pecado, creio que percebemos, que o importante é cortar e deitar fora as raízes do mal, que leva ao pecado. Cuidemos das nossas mãos, dos pés e dos olhos (tantas vezes tão mal cuidados e negligenciados!), mas reflitamos aquilo que fazemos com eles, e em tudo o que de mais belo poderíamos fazer.
E volto ao psiquiatra Pedro Afonso e a uma experiência que conta no artigo referido: “Tudo começou num dia em que a electricidade faltou. Nessa noite não houve Internet, televisão, PlayStation. Pais e filhos passaram o serão em redor de uma vela. Conversaram, contaram histórias e o tempo passou. A partir desse dia, a família passou a ter uma vez por semana uma noite sem luz.” A prescrição médica de “uma noite por semana à luz da vela” pode ser uma provocação, mas, quem sabe, se não encontraríamos a luz necessária para não cortarmos tantas coisas essenciais, e criarmos outras tão saudáveis e felizes! Não recebemos todos uma vela no baptismo, que mesmo com a chama frágil, ainda não se substituiu por nenhum holofote ou lanterna de led’s mais “baratos e eficazes”?!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
- A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
- No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
- A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.
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